30/09/2009 - 7:00
Antes de você terminar de ler este texto, daqui a dois ou três minutos, a maior fábrica de tevês de LCD do mundo, em Paju, na Coreia de Sul, terá produzido mais de mil aparelhos de alta resolução.
Os 15 mil funcionários da unidade, que pertence à LG Electronics, se desdobram para atender ao aumento expressivo de encomendas, mas o ritmo intenso não tem sido suficiente para aplacar a procura.
O problema deverá ser solucionado com a construção de um novo prédio, anexo ao atual, orçado em US$ 2,2 bilhões. Apesar da crise financeira global e da desaceleração das economias dos Estados Unidos e da Europa, a LG é uma empresa a toda velocidade. No segundo trimestre de 2009, as vendas globais de televisões da marca cresceram 45%, contra o mesmo período do ano passado.
É uma enormidade – quase o dobro da média do mercado. Na carona desse processo, de abril a junho o faturamento da empresa no segmento de LCD disparou 62%, na comparação com 2008. O desempenho da LG se dá num momento em que alguns de seus principais concorrentes, como as japonesas Sony, Panasonic e Sharp,exibem balanços com resultados piores que os do ano passado.
Afinal, qual é o segredo do sucesso da LG? As razões que impulsionam o faturamento da sul-coreana não têm nenhuma relação com o “milagre do Han”, rio que corta a capital Seul e que é usado como explicação pelos sul-coreanos para justificar o impressionante crescimento do país nas últimas décadas.
Por mais simples que possa parecer, a receita da companhia está na velha equação custo-benefício, conhecida desde o início do século passado, quando Henry Ford introduziu a linha de montagem na fabricação de automóveis.
Os sul-coreanos detestam ser comparados – ou confundidos – com japoneses e chineses, mas têm seguido à risca a cartilha chinesa para reduzir custos e estudado com empenho os vizinhos do Japão na busca pela qualidade. “Somos diferentes de nossos vizinhos, mas disputamos o mesmo mercado. Não podemos ter custo maior nem qualidade inferior”, diz o vice-presidente mundial de comunicação corporativa da empresa, Paul Chung.
A principal iniciativa para reduzir custos está na aproximação com parceiros comerciais. Somente neste ano, a pedido da LG, 18 grandes fornecedores de componentes para tevês, como chapas de vidro e semicondutores, se mudaram para as proximidades da fábrica de Paju. Com isso, a fabricante reduziu em 12% a importação de matérias-primas, principalmente de empresas japonesas e chinesas. Isso se refletiu no preço final dos artigos vendidos no mercado, ligeiramente inferiores aos da concorrência.
No quesito qualidade, a matriz decidiu ampliar de 2,9% para 3,5% a fatia da receita global destinada à pesquisas e ao desenvolvimento de tecnologias. Parte do sucesso da empresa se deve ao mercado chinês.
Gigante no limite da produção: maior fábrica de TV s do mundo, a 10 km da fronteira com a temida Coreia do norte, será ampliada ao custo de US$ 2 bi
Atualmente 15,3% das exportações da Coreia do Sul vão para a China, percentual que saltará para 34,4% em 2011, segundo projeção do Instituto Nacional de Estatísticas da Coreia. A LG estabeleceu a meta de dobrar as vendas ao país vizinho e garantir, assim, seu ambicioso projeto de liderança.
Entre os fabricantes de LCD, a companhia ocupa o segundo lugar no ranking global, com 11,5% do mercado. A líder é a também sul-coreana Samsung, com 18,5%. Na Coreia do Sul, a LG conseguiu um avanço importante em 2009, passando de 21,6% para 25% de share. “Nossa ambição é a liderança global”, diz o vice-presidente Chung. “É esse alvo que alimenta o nosso crescimento.”
Em seu objetivo de chegar ao topo, a empresa anunciou no mês passado um investimento de US$ 2,6 bilhões na Coreia do Sul para a ampliação de 30% da produção local de monitores e tevês com uma nova tecnologia chamada LED (sistema, também de tela fina, que deve substituir o LCD).
Recentemente, a empresa colocou anúncios nos jornais do país convocando estudantes e trabalhadores para 2,2 mil vagas para o último trimestre. “Precisamos nos preparar para o aumento do consumo no pós-crise”, afirmou o presidente mundil da LG, Young Soo Kwon, em recente encontro com diretores.
No Brasil, a empresa já é a número 1 no mercado de tevês de LCD, com 35,9% de participação, contra 26,7% da Samsung. Para convencer o consumidor brasileiro de que é referência em qualidade, a LG não tem economizado. Trata-se de uma determinação da matriz.
No primeiro semestre, segundo dados do Ibope, a empresa investiu no País R$ 36,5 milhões em publicidade – o valor é sete vezes maior em relação aos R$ 5 milhões que a Sony injetou em ações de marketing no mesmo período. “A liderança no Brasil é muito importante, porque se trata de um dos mercados mais competitivos do mundo”, diz Eduardo Toni, diretor de marketing da LG.
No segmento de celular, a LG recentemente desbancou Nokia e Motorola em faturamento, assumindo a primeira posição. Em volume de vendas, passou a Samsung, o que lhe garantiu o segundo lugar, atrás apenas da Nokia.