20/02/2017 - 8:51
Menos de 1 quilômetro de distância separa um dos pontos mais badalados da noite paulistana da casa de Gegê do Mangue, número 3 do Primeiro Comando da Capital (PCC). A efervescência e o agito do cruzamento das Ruas Aspicuelta e Fidalga, na Vila Madalena, que concentra ao menos uma dezena de bares, ocorrem independentemente da proximidade com o vizinho “ilustre”.
Gegê fez carreira no crime fornecendo droga para os frequentadores do bairro boêmio e foi para lá que prometeu voltar após ter sido libertado neste mês. Ao menos, foi o que ele declarou à Justiça ao dizer que em um endereço na Rua Fidalga era onde poderia ser encontrado para receber notificações dos diversos processos que ainda responde. O Mangue do apelido ele herdou da comunidade onde nasceu e cresceu, no coração da Vila Madalena. A morte de um tio o alçou à liderança do tráfico da área e a um papel de relevância no Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo apontaram investigações da polícia e do Ministério Público. Apesar da raiz e da promessa à Justiça, não foi para lá que ele foi após ter deixado a prisão.
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo esteve na rua na semana passada e se deparou com um domicílio com sinais de abandono. A casa tem janelas quebradas, uma obra de primeiro andar deixada pela metade e um anexo em que o portão foi substituído por uma lona. Na garagem, um carro foi visto, mas ninguém respondeu às tentativas de contato. Fora, na caixa de correio, correspondências se acumulavam.
Na vizinhança, o nome tem peso. “Ele cresceu aqui, rapaz. É um garoto nota mil, palmeirense roxo. Tratei como se fosse meu filho. Estou muito feliz que ele foi solto. E foi tudo de acordo com a lei, viu?”, conta um dos vizinhos, que pediu para ter a identidade preservada. “Ele morava na Fradique Coutinho, mas sempre estava aqui com a rapaziada. Tinha muitos amigos”, acrescentou.
Outros, apesar de reconhecerem o nome, preferem não comentar o caso. O pintor Francisco Carlos Vasquez, de 63 anos, trabalhava na tarde da quarta-feira passada na casa imediatamente vizinha ao endereço de Gegê. “A gente ouve falar, mas eu mesmo não dou nenhuma importância”, disse sucintamente. “O trabalho já nos toma bastante atenção.”
Nada a dizer. A influência do réu na região parecia desconhecida para outros tantos na Rua Fidalga. Foi o caso da recepcionista Ruth Lira, de 38 anos, do ateliê perto da casa de Gegê. Outros vizinhos falaram que algumas pessoas aparecem à noite no imóvel, mas disseram não saber quem são. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.