21/02/2017 - 18:44
Para quem gosta de números que mimetizam lucros, as recentes cifras do Ibovespa, o índice das principais ações negociadas na BM&FBovespa, não poderiam ser melhores. Somente neste ano, sua valorização é superior a 14%, mais de sete vezes o que rendeu a taxa de juro, que serve como referência para os fundos de renda fixa, o CDI. Em 12 meses acumulados, a escalada do Ibovespa chega a 66%.
Os apaixonados por planilhas e risco perguntam-se o óbvio: ainda dá tempo de apostar em ações ou os preços já subiram demais? Para os especialistas do setor há quase que uma resposta padrão quando falam do assunto: tudo é relativo. Mas há indícios fortes de que há espaço para ainda se apostar na bolsa.
Uma pista nesse sentido deve ser conhecida nesta quarta-feira, 22, quando o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) define qual será o tamanho do corte nos juros básicos da economia, hoje em 13% ao ano. As apostas do mercado são de um corte similar à última reunião, de 0,75 ponto percentual.
“Tendência de queda de juros representa melhora para o mercado de ações por uma série de aspectos, mas principalmente porque taxas menores empurram os investidores ao risco da bolsa”, afirma Ricardo Almeida, diretor de investimentos do Bradesco Asset Management.
Balanços mais saudáveis
A lógica por trás de análise é contábil, diz Almeida no Bradesco, Luis Guedes, superintendente de renda variável do Bradesco Asset Management. Segundo ele, as empresas se beneficiam com juros menores porque conseguem reduzir seus endividamentos de médio e longo prazo, o que melhora a saúde fiscal dos balanços.
Tanto Almeida quanto Guedes acreditam que juros decrescentes se agregam a um cenário de melhora das contas públicas do governo federal, com a recente aprovação da emenda constitucional de limita os gastos do governo e a condução da reforma da Previdência no Congresso. “Estamos otimistas com bolsa, juros e com o dólar, provavelmente furando o piso de R$ 3, baseados naquilo que assistimos”, afirma Almeida.
Pelos cálculos de ambos, o Ibovespa deve ter uma valorização entre 20% e 30% em 2017, o que o levaria para um patamar de 80 mil pontos (na terça-feira, 21, fechou aos 69.052 pontos). Subtraindo-se os 14% já contabilizados até agora, Guedes acredita que haja espaço para um ganho na mesma proporção ou mais até dezembro.
“Mas é preciso ficar atento para duas coisas: diversificar investimentos em setores promissores, como infraestrutura e algumas empresas de varejo, que recomendo, e olhar um horizonte de médio a longo prazo”, diz Guedes. Perguntado que empresas o Bradesco Asset observa como promissoras, os especialistas citam CCR, Sanepar, Cemig, Vale, Petrobras, CVC e Raia Drogasil com boas perspectivas.
Volatilidade
Para o diretor executivo de gestão de fundos do Banco do Brasil DTVM, Carlos André, a safra de notícias positivas beneficia o Ibovespa. “É bom lembrar que houve um fluxo de investimento externo estrangeiro muito forte até agora neste ano, entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões que foram em boa parte para a bolsa”, afirma André.
Ele também atesta que a perspectiva de juros menores no Brasil e o cenário de reformas ajudam a compor um ambiente propício à valorização das ações. Mas alerta que o cenário externo ainda é uma incógnita, particularmente com as repercussões da economia do estilo Trump nos Estados Unidos.
“Não estamos imunes ao mundo, ao que acontece com os americanos e China. Muito embora o preço das commodities como minério de ferro e o apetite dos chineses pelo nosso aço tenham ajudado ações de empresas de siderurgia”, diz André. Segundo ele, o mercado daqui para frente será muito mais volátil, com sobe-e-desce nos preços das ações. “Será preciso apetite para risco e ganhar em momentos específicos com os papéis”, afirma.
Perguntado se os fundos de ações seriam uma boa alternativa para os pequenos investidores, particularmente os que devem sacar dinheiro das contas inativas do FGTS nas próximas semanas, André diz que sim. “Acredito que o dinheiro do FGTS será usado mais para saudar dívidas do que para aplicação, mas é sempre bom, se sobrar algum, diversificar investimentos e colocar uma pequena parcela em fundos de ações que atendam o perfil do aplicador”, diz André.