A reoneração da folha de pagamento para diversos setores antes beneficiados e a incidência do IOF sobre operações de cooperativas de crédito, duas das medidas anunciadas pelo governo para aumentar a receita, vão aprofundar a recessão econômica vivida pelo Brasil, avalia o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas. “E toda vez que você acentua a recessão, gera desemprego”, disse.

Para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, as medidas se justificam porque a prioridade do governo é cumprir a meta fiscal de 2017, de déficit de R$ 139 bilhões. Mas para Velloso, a melhor alternativa seria elevar o déficit da meta, para evitar as medidas. “O governo vai dizer que o cumprimento da meta gera confiança e o setor privado vai investir mais adiante, mas o que determina a confiança hoje é a reforma da Previdência, não um ajuste na meta nos primeiros meses do ano”, afirmou o economista. “Não há garantia de que vão investir no País só porque a meta foi cumprida, isso não quer dizer muita coisa”.

Além disso, para o especialista em contas públicas, as medidas anunciadas hoje mostram que a PEC do teto dos gastos não servirá para controlar as contas no curto prazo, mas somente no longo prazo, uma vez que o contingenciamento anunciado, se cumprido, resultará em um total de gastos públicos, no fim de 2017, inferior ao montante do ano passado mais a inflação. “O governo gastou capital político para aprovar uma PEC que não será aproveitada pela atual gestão. É muita bala para pouco efeito”, afirmou.

Sobre a escolha de apenas quatro setores que continuarão com o benefício da desoneração da folha (transporte rodoviário coletivo de passageiros; transporte metroviário e ferroviário; construção civil e obras; comunicação) Velloso disse que provavelmente o critério se deu pela pressão política destes. “É onde a resistência se fez maior”, afirmou. Meirelles argumentou que estes setores foram escolhidos porque foram os únicos em que a desoneração apresentou efeito positivo.