10/04/2017 - 15:01
A Operação Lava Jato não é resultado apenas de um “grupo de heróis”, mas uma consequência de várias políticas e medidas que vêm sendo adotadas no Brasil nos últimos anos, disse a jornalistas o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Antônio Gustavo Rodrigues, após participar de debate em evento da Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta segunda-feira, 10.
A Lava Jato só existe hoje por causa de lei do combate à lavagem de dinheiro, de 1998, disse Rodrigues. Foi essa norma que deu espaço para o surgimento do Mensalão, que acabou desembocando na operação que investiga nos últimos 3 anos irregularidades na Petrobras. Entre outros desdobramentos, o presidente do Coaf citou ainda a regra que permite as delações premiadas.
Um dos poucos presos do Mensalão, disse Rodrigues, é o publicitário mineiro Marcos Valério, condenado a mais de 40 anos de prisão por intermediar o esquema de pagamento de propinas a parlamentares. Assim, os intermediários investigados da Lava Jato viram que, se não delatarem, podem acabar com longas sentenças como Valério. “Aí você vê o que os intermediários da Lava Jato estão fazendo, delatam logo, ou vão ser o Marcos Valério de amanhã. Isso se aprendeu onde? Ele viu da outra operação.”
“Você vai acumulando, vai aprendendo. É um somatório de políticas, de medidas que vai aumentando o controle, a transparência”, disse ele. “Há um monte de ações que vão levando a este resultado, não é uma coisa só de um grupo de heróis, é uma coisa que tem uma história”, disse o presidente, sem citar nomes. O Coaf tem batido sucessivos recordes de trabalho com o aumento das investigações da Polícia Federal. Só na Lava Jato, afirmou o presidente, já foram produzidos mais de 800 relatórios desde o começo da operação.
Durante o debate, Rodrigues defendeu que se criem normas para descobrir quem são os beneficiários finais donos de imóveis, muitos pertencentes a empresas com estruturas complexas. “Sigilo não pode ser guarda-chuva de bandido”, disse ele. Ao mesmo tempo, é preciso ser cuidadoso para identificar os verdadeiros culpados.
O presidente do Coaf avalia que o Brasil tem dificuldade de punir e, por isso, pune mal. Ele citou como exemplo uma ponte em Brasília, com velocidade máxima de 80 km por hora. Quando alguém a 120 km por hora provoca algum acidente, a decisão do governo local é baixar a velocidade máxima para 60 km. “Ao invés de punir quem transgride, você vai e pune todo mundo.”