Ao abrir as portas hoje, o Palácio Tangará – hotel que pretende se tornar um novo templo do alto luxo em São Paulo – põe fim a uma saga de quase 20 anos que inclui um sonho frustrado de um empresário ambicioso, brigas entre sócios e uma obra que se tornou um “fantasma” que assombrou o Parque Burle Marx, na zona sul de São Paulo, durante 12 anos. Após ser comprado por um fundo americano e ter a administração assumida por um grupo alemão, o hotel inicia as atividades com um novo desafio: enfrentar a atual crise do setor de hospedagem no País.

O projeto, idealizado pela constutora Birmann, que foi referência no desenvolvimento de edifícios comerciais na capital paulista nos anos 1980 e 1990, foi comprado há quatro anos pelo fundo GTIS – antes, era uma sociedade entre o empresário Rafael Birmann e a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil).

As obras foram iniciadas em 1998, mas a Birmann entrou em crise em 2000, o que levou à paralisação dos trabalhos em 2001. Uma disputa entre os sócios, aliada à dificuldade em encontrar um novo investidor, deixou a obra parada por mais de uma década. Durante anos, soluções foram buscadas para o projeto – entre os que olharam o ativo esteve a espanhola OHL.

No entanto, foi o americano GTIS que, em 2013, chegou a um acordo com Birmann. O empresário abriu mão do empreendimento para se livrar de dívidas. Já os 49% que pertenciam à Previ foram comprados por R$ 45 milhões, em acordo separado.

O fundo investiu na conclusão das obras – ainda faltavam 30% dos trabalhos – e fechou acordo de administração com a alemã Oetker Collection, referência em hotéis cinco estrelas. Para dirigir o Tangará, veio o executivo Celso do Valle, que participou do início da operação do Emiliano, em 2001.

Luxo

Segundo Valle, o objetivo da Oetker é entregar um novo conceito de luxo em hotelaria ao mercado paulistano. A diária dos quartos vai variar de R$ 1,6 mil a R$ 38 mil – o menor quarto do Tangará tem 47 metros quadrados e a maior suíte, 530 metros quadrados. “Todos os quartos terão vista para o verde do Parque Burle Marx. Ninguém vai abrir a janela e ver uma parede”, garante Valle.

Os hóspedes ainda contarão com duas piscinas aquecidas (uma delas coberta), academia, spa administrado pela francesa Sisley, bar de drinques e um restaurante com cardápio desenvolvido pelo “chef-celebridade” Jean-Georges Vongerichten, entre outros “mimos”.

Para se diferenciar no segmento de luxo – onde enfrentará a concorrência de rivais como Emiliano, Fasano e Unique –, o Palácio Tangará pretende atrair o público paulistano para suas instalações. A meta é que o restaurante, o spa, o bar de drinques e adega possam ser usados por quem não estiver hospedado no hotel. Outra aposta é um espaço de eventos que comporta até 400 pessoas – e já tem 15 casamentos fechados para os próximos meses.

Desafios

Após quase 20 anos em “gestação”, o Palácio Tangará chega não só no meio de uma crise econômica, mas também em um dos piores momentos recentes para o setor hoteleiro. Mesmo em São Paulo, mercado considerado “blindado” pelo turismo de negócios, houve um recuo de 20% em três anos, segundo Diogo Canteras, sócio-diretor da consultoria Hotel Invest. Hoje, segundo a consultoria, a taxa de ocupação dos hotéis em todas as capitais brasileiras está abaixo de 60% – o ponto de equilíbrio médio do setor é de 70%.

Além disso, segundo o consultor, o fator localização também pode pesar contra o Tangará. O bairro do Panamby, onde fica o hotel, costuma registrar engarrafamentos pela manhã – o que pode prejudicar o trajeto de altos executivos a seus locais de trabalho. Embora se trate de um projeto ambicioso, Canteras lembra ainda que há outras marcas consolidadas no segmento luxo na cidade. E a concorrência está prestes a ficar ainda mais pesada, já que a rede Four Seasons tem estreia marcada em São Paulo para 2018.