Eles discordavam da grade de atividades das creches convencionais, com horários fixos para as crianças dormirem e brincarem, e achavam insuficiente a participação das famílias apenas nas festinhas e reuniões bimestrais. Em busca de mais participação na educação dos filhos e sem deixar de lado a socialização, grupos de pais têm se reunido para formar creches parentais ou familiares.

São famílias de classe média que já se conheciam ou se encontraram nas redes sociais, com filhos na mesma faixa etária, que decidiram montar um modelo de creche que atendia às suas expectativas. Os pais se revezam para cada dia um cuidar das crianças ou contratam uma cuidadora. A creche pode funcionar na casa de uma das famílias ou em um espaço alugado.

A geógrafa Marta Franco, de 34 anos, é uma das mães que idealizou o Caminhar Coletivo, creche parental na Tijuca, no Rio. Ela conta que, quando a filha Carolina tinha 4 meses, começou a procurar por uma creche para ter onde deixá-la quando voltasse da licença maternidade. “Visitei algumas escolas e o que vi foram espaços pequenos, sem área verde. A impressão que tinha era de que deixaria minha filha numa caixa.”

Sem ter parentes que pudessem ficar com a menina, Marta conversou com uma amiga que também não queria colocar o filho em escola convencional. Depois de pesquisarem, elas começaram em julho do ano passado a creche parental com três bebês – hoje, são quatro, com idades entre 1 ano e 1 ano e 5 meses.

As famílias alugaram uma sala comercial, contrataram uma cuidadora – que já tinha tido trabalhado antes como assistente em uma creche – e se organizaram para que cada dia ao menos um dos pais fique com as crianças. Os custos são divididos entre elas: por mês cada uma paga cerca de R$ 700 para que os filhos fiquem 5 horas no local. “São as famílias que pesquisam atividades para as crianças, nós limpamos o espaço, fazemos o trabalho administrativo. Mas todo o trabalho é compensado por estarmos perto dos nossos filhos, ver o desenvolvimento deles, como se relacionam com outras crianças”, disse Marta.

Conversa de amigas

Com o fim da licença maternidade, a gestora pública Manuela Colombo, de 33 anos, enfrentou a dúvida sobre onde deixar a filha Martina. As duas opções mais convencionais não a agradavam: na escola, a menina teria de se encaixar desde pequena em regras e horários fixos. Com a babá, ficaria sem contato com crianças de sua idade.

Conversando com três amigas que tinham filhos da mesma idade da sua, Manuela decidiu transformar sua casa, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, em uma creche parental, que passaram a chamar de Quintal do Limoeiro. Elas contrataram duas assistentes de uma escola para ficar com as crianças das 13 às 19 horas.

“Nós temos uma participação na educação das crianças que seria impossível em uma escola. Nós pesquisamos práticas e teorias pedagógicas, conversamos com as cuidadoras. Alguns avôs passam a tarde com as crianças. É um envolvimento muito grande da família”, diz.

Cautela

Maria Carmem Barbosa, professora de Educação Infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alerta as famílias para que as creches parentais não sejam espaços que apenas reproduzam o ambiente familiar. “Ir para a escola é importante por ampliar o repertório de relações e experiências da criança. Se ela está em um ambiente que muito se assemelha à casa e à família, ela pode não ter o mesmo desenvolvimento que poderia ter.”

Ela também diz que as famílias precisam estar atentas à legislação municipal para que o espaço não se configure como uma creche, caso contrário elas têm também de atender às especificações da lei. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.