09/07/2003 - 7:00
O clube mais exclusivo da elite financeira brasileira vai abrir suas portas para novos sócios e convidados. Localizado num prédio de bancos e empresas da avenida Faria Lima, em São Paulo, o GP Investimentos é uma instituição para poucos iniciados. Quem chega no edifício, não vê placa com o nome da companhia na portaria nem no sétimo andar, onde fica o escritório. Mas todos os empresários e executivos com algum poder e dinheiro sabem quem trabalha ali. O GP foi criado há dez anos por Jorge Paulo Lemann. Fundador do banco Garantia e um dos donos da Ambev, Lemann é um dos banqueiros de investimentos mais badalado e imitado do País. No GP, Lemann e outros ex-sócios do Garantia, como Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, criaram o primeiro e o maior fundo de private equity do País. Sua especialidade é comprar pedaços de empresas (como Telemar, Ferrovia Centro-Atlântica e Gafisa), dar um impulso na companhia e revender as ações com lucro. Agora, Lemann, Telles, Sicupira e outros três sócios deixarão de ser os controladores do GP e passarão a minoritários. Vão abrir espaço para sete associados mais jovens, os novos controladores do GP. Além disso, a empresa vai aceitar, pela primeira vez, aplicações de investidores comuns. Quer dizer, nem tão comuns assim. O investimento mínimo será de R$ 500 mil.
A transição entre as duas gerações é combinada. Faz parte da filosofia de trabalho adotada por Lemann desde os tempos do Garantia, vendido para o CS First Boston em 1998. Um dos itens básicos da fórmula do Garantia é a premiação pelo bom desempenho. Quem se dá bem, ganha bônus e participação acionária. Quando Lemann, Telles e Sicupira venderam o Garantia, eles tinham menos de 30% do capital do banco. A situação no GP é parecida. Os seis sócios originais continuam donos de grande parte do capital. Mas os sete mais novos ganharam participação ano a ano e agora são majoritários. À frente do grupo dos associados mais jovens, estão três executivos. Antonio Bonchristiano, Fersen Lamas Lambranho e Marcelo Peano são os responsáveis por administrar o dia-a-dia da companhia. Além deles, estão no controle do GP Octávio Lopes, Carlos Medeiros, Nelson Rozental e Rodrigo Campos. Assim como seus antecessores, eles seguem à risca a filosofia do velho Garantia. ?Muitos copiam nosso modelo de trabalho, mas no GP ele funciona porque nós realmente acreditamos no sistema?, diz Lambranho.
A mudança na composição acionária será acompanhada pela ampliação no mapa dos negócios. São planos ambiciosos. ?Queremos dobrar o volume de recursos que administramos em 18 meses?, diz Bonchristiano, um dos dois únicos brasileiros citados na lista de lideranças do futuro preparada pelos organizadores do Fórum Econômico Mundial, de Davos. Hoje, o GP tem R$ 3 bilhões em private equity. Outros R$ 600 milhões estão num fundo de aplicação financeira do patrimônio pessoal dos sócios. Para atingir R$ 7,2 bilhões em recursos administrados até o final de 2004, a empresa vai atacar em três frentes. A estratégia inclui desde engordar o capital para comprar mais empresas à criação de fundos de investimento financeiros, abertos a quem tiver pelo menos R$ 500 mil para aplicar.
A primeira estratégia surgiu quase por acaso. Há três anos, os sócios do GP convidaram o economista Marcelo Peano para administrar uma parte do patrimônio pessoal deles, R$ 600 milhões. Na ocasião, Peano abriu um hedge fund (Petrópolis), aplicação com liberdade para apostar em juros, dólar, ações ou títulos da dívida externa. Os resultados foram melhores do que se esperava. Em três anos, o Petrópolis rendeu o equivalente a 152% do CDI (a taxa de juros dos bancos). Apesar de ser um tipo de fundo de maior risco, o Petrópolis nunca deu resultado mensal negativo e só perdeu do CDI em duas oportunidades. Agora, o fundo será oferecido para os clientes de alta renda dos grandes bancos. ?Com a saída de bancos estrangeiros do País, há um espaço para quem oferece fundos diferenciados?, diz Peano. Além do Petrópolis, o GP lançará outro hedge fund, só que mais agressivo. Enquanto a meta do Petrópolis é render 120% do CDI, a do Petrópolis Plus é 200% ? o que implica maiores oscilações e riscos. Nos dois casos, as aplicações serão limitadas. O Petrópolis será fechado quando atingir R$ 1 bilhão e o Plus, com R$ 500 milhões.
Outra frente de atuação será a criação de dois fundos baseados em investimentos no mercado imobiliário. Essa idéia partiu da experiência que os sócios do GP tiveram ao investir na construtora Gafisa. ?Há uma demanda enorme por imóveis no Brasil?, diz Bonchristiano. Para montar os fundos, foi criado o GP Investimentos Imobiliários, com dois profissionais especializados: Luciano Lewandowski e Jorge Nuñez. Um dos fundos compra com desconto as dívidas que as construtoras têm a receber dos clientes. Funcionará como um fundo de renda fixa, com meta de desempenho de 16% acima da inflação (IGP-M) ao ano. O outro lançamento é como um fundo de private equity do setor imobiliário. Ou seja, compra cotas de empreendimentos, com meta de render de 20% a 25% ao ano.
Novos investimentos. A terceira ponta da estratégia da nova geração do GP é aumentar as apostas no seu campo mais tradi-
cional de atuação, private equity. ?Está na hora de fazermos uma nova rodada de captação de recursos?, diz Bonchristiano. Há dez anos, o GP criou seu primeiro fundo, com US$ 500 milhões. Desde então, rendeu 15% ao ano ? em dólar. ?Eles abriram as fronteiras do private equity no Brasil?, diz Patrice Etlin, do fundo Advent. As melhores tacadas do GP foram em empresas como a Multicanal,
de TV a cabo, e os supermercados Bompreço e Sé, revendidos com grande lucro. Mas o toque de Midas às vezes falha, especialmente com uma economia instável como a do Brasil. Entre os investimentos mais problemáticos estão companhias de internet e o parque de diversões Hopi Hari. O caso mais rumoroso foi o da Coteminas,
do vice-presidente José Alencar, em que o GP encara uma dura batalha nos tribunais.
Com R$ 200 milhões em caixa, o GP já busca pelo menos quatro grandes alternativas de negócios. Seus sócios não comentam conversas em andamento. Mas sabe-se que têm interesse pela Perdigão e empresas da área de energia, entre elas a Eletropaulo. Parte das aplicações será destinada a dois fundos criados recentemente, um para a área de petróleo e gás e outro, de tecnologia. Os alvos incluem empresas com faturamento de R$ 10 milhões a R$ 3 bilhões por ano. Em todos os casos, a estratégia segue a mesma filosofia de trabalho: investir em empresas com grande potencial de crescimento e onde a tecnologia de gestão e o capital do GP façam a diferença. Em alguns casos, os próprios sócios do GP metem a mão na massa e assumem a direção das companhias. ?Experiência nesse negócio conta muito e são eles que têm mais tempo de private equity no Brasil?, diz Bruno Rocha, da administradora de fundos Dynamo e ex-sócio do Garantia.
Sem Lemann. O grande desafio daqui para a frente será manter a aura de midas, mesmo com o progressivo afastamento de Lemann. Embora continue como sócio importante e atue no conselho de administração do GP, há dois anos não participa do dia-a-dia da empresa. No seu lugar, assumiram Bonchristiano, de 36 anos, Lambranho, de 42 anos, e Peano, de 37 anos, no melhor estilo do Garantia. Ou seja, subiram por seus méritos. Bonchristiano formou-se em política, filosofia e economia em Oxford, trabalhou em bancos em Londres e Nova York. Voltou para o Brasil, em 1993, e foi contratado pelo GP. Formado em engenharia civil, Lambranho entrou para as Lojas Americanas, que eram de sócios do GP, como analista financeiro. Virou presidente e , em seguida, migrou para o GP. Peano foi contratado por Lemann _ que não o conhecia pessoalmente _ por sua fama como gestor de investimentos no J.P. Morgan e Unibanco. ?É um desafio andar mais sozinhos, com participação menor do Jorge Paulo?, diz Eduardo Plass, presidente do banco Pactual. ?Mas eles são muito competentes e têm tudo para ocupar espaço no mercado.? O clube mais exclusivo da elite financeira do País está sob nova direção.