02/10/2017 - 7:57
No próximo dia 4, a Bienalsur (Bienal Internacional de Arte Contemporânea da América do Sul) chega a Porto Alegre com a proposta inovadora de “derrubar fronteiras com a arte”. Os organizadores vão exibir – de forma simultânea e interativa – as obras de 250 artistas, em 32 cidades de 16 países. O ponto de partida, em setembro, foi Buenos Aires – berço do projeto da universidade pública Tres de Febrero (Untref). Mas o evento, que dura até dezembro, se estenderá até Tóquio, a mais de 18 mil quilômetros de distância da capital argentina.
“É uma proposta criativa de integração e solidariedade entre nações, num momento em que o mundo está cheio de muros e projetos de intolerância”, disse à Agência Brasil o sociólogo e colecionador Aníbal Jozami, reitor da Untref. Como exemplo, ele citou as intervenções artísticas em duas zonas de conflito fronteiriço. Numa delas, 14 artistas trabalharam durante uma semana numa área cuja soberania é disputada pelo Chile e o Peru – e a equipe inteira passou uma noite na cadeia.
“Um artista vestiu uma réplica do uniforme do general Bernardo O’Higgins (líder da independência chilena), para uma foto, e alguém denunciou à polícia peruana a presença de um exército invasor”, contou Jozami. “Mas, além dessa anedota, o resultado desse esforço conjunto será exibido nos dois países”. No próximo dia 21 de outubro, a Bienal vai inaugurar outra exposição na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela.
Convidados para participar da Bienal, os venezuelanos desistiram, afirmando que não tinham como garantir a segurança do patrimônio artístico. Os preparativos para o evento coincidiram com o agravamento da crise na Venezuela: desde abril, mais de 100 pessoas morreram em manifestações contra e a favor do presidente Nicolás Maduro, que enfrenta uma inflação anual de três dígitos e desabastecimento.
No Brasil, já estão em cartaz exposições no Memorial da América Latina , na capital paulista e no Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (SP). O Rio de Janeiro terá exposições na Central do Brasil e na Fundação Getulio Vargas, a partir do dia 12 de outubro. E artistas brasileiros como Eduardo Srur, Vik Muniz, Hélio Oiticica e Anna Bella Geiger – entre outros – farão mostras na Argentina e no Peru.
No total, os artistas representam 78 países – entre eles vários da América Latina, da Europa, dos Estados Unidos, de Israel e de Madagascar. Todos os parceiros da Bienal assumiram o compromisso de abrir seus espaços gratuitamente ao público, que poderá “visitar” virtualmente todas as 84 sedes do evento e interagir com outros visitantes em uma tela.
A diretora artística do evento, Diana Wechsler, disse que essa bienal de arte é diferente de todas as outras, porque não definiu um tema. Fez uma convocação internacional, onde cada artista apresentou a sua proposta. “A ideia era privilegiar a liberdade e a criatividade e mostrar que é possível estabelecer um diálogo, em pé de igualdade, entre vários pontos do planeta, usando a arte como forma de integração”, concluiu Jozami.
Na Argentina, o projeto incluiu um ateliê de fotografia para adolescentes de comunidades da grande Buenos Aires, coordenado pelo conhecido fotógrafo de guerra iraniano Reza Deghati. As obras deles também serão exibidas na Bienalsur.