09/10/2017 - 20:46
O delator Renato Chebar, doleiro que revelou o esquema de ocultação, no exterior, de dinheiro de propina recebida pelo ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB), confirmou, em depoimento ao juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, nesta segunda-feira, 9, que operava, com o irmão, Marcelo Chebar, contas num total de US$ 100 milhões, em bancos na Suíça, Andorra, Luxemburgo, Uruguai e Bahamas.
Os irmãos Chebar já haviam prestado informações por meio de delação premiada. O dinheiro era depositado em diversas contas de modo a não se levantar suspeitas, eles explicaram. Neste domingo, os dois irmãos confirmaram que trabalharam para o peemedebista desde 2000, quando ele ainda era deputado estadual.
O volume de dinheiro ilícito movimentado foi tão grande que os operadores tiveram de pedir ajuda a outros doleiros, ambos contaram. Um funcionário do escritório de câmbio deles, Vivaldo Filho, também foi ouvido por Bretas, e confirmou ter estado diversas vezes com os emissários de Cabral. Um encontro se deu no meio da Avenida Niemeyer, que liga os bairros do Leblon e São Conrado, na zona sul do Rio.
“Quando ele se tornou governador (em 2007), o volume de negócios aumentou substancialmente. Eu e meu irmão não tínhamos condições de dar conta. Chegavam os reais à minha mão, e minha função era transformá-los em dólar no exterior. Isso até 2014. De 2014 até 2016, se inverteu”, disse Renato, referindo-se ao momento em que começou a fazer pagamentos de contas pessoais de Cabral e de sua família no Brasil.
Esses pagamentos se referiam a contas de cartões de crédito, cota condominial, mensalidades escolares e do clube do Flamengo, faturas de curso de inglês, de floriculturas, restaurantes, grifes de terno e carnês do INSS de funcionários de Cabral.
“Nosso escritório éramos meu e meu irmão, a gente terceirizou o serviço para dois doleiros do Uruguai, que eram o Vinicius (Claret, o “Juca Bala”) e o Claudio (Barbosa) (ambos presos em março). No começo não fazia parte do trabalho pagar as contas. Depois a gente passou a pegar e levar dinheiro. Nunca eram R$ 10 mil, eram sempre R$ 150 mil ou R$ 200 mil. Tinha trabalho três ou quatro vezes por semana”, contou Marcelo.
“Em 2014, por uma questão emocional, eu quis sair. Eu saí no final de 2014 e Renato ficou até 2015, eu assumia quando ele viajava. Desde 2007 a gente vivia exclusivamente desse dinheiro de Cabral, por causa do volume. No começo a gente só ganhava o câmbio, depois começou a cobrar para ter essa atividade, então eu ganhava 1% da operação mensal dele”, Marcelo acrescentou.
Ele não quis revelar qual valor recebia pessoalmente, ao ser questionado sobre seu lucro e patrimônio pelo advogado de Cabral, Rodrigo Roca. “Não sei que influência seu patrão ainda tem. É minha vida particular. Prefiro não responder”, justificou.
Renato disse que as entregas eram feitas em endereços mandados pelos assessores de Cabral, e que o escritório não sabia quem morava neles – os encontros eram, em geral, na portaria. “Eu não falava com o Cabral diretamente. A minha ponta de interlocução era o Carlos Miranda. Ele me passava uma planilha na segunda ou na terça-feira dizendo onde seriam as entregas e recepções, e me dava o endereço para entregar R$ 150 mil, R$ 200 mil”, declarou Renato. “Quando era um volume que dava pra carregar, meu funcionário ia”.
A partir das delações dos dois irmãos, já foram repatriados cerca de US$ 103 milhões (por volta de R$ 327 milhões), de bancos, fundos e joias que eram de Cabral.