20/07/2005 - 7:00
Nos últimos dois anos, a Boeing perdeu a liderança de mercado para a francesa Airbus e amargou três escândalos sucessivos envolvendo executivos diferentes ? por espionagem industrial, tráfico de influência e assédio sexual. Não foi fácil. Agora, a fabricante norte-americana de aeronaves acredita que encontrou sua redenção. E ela atende por três algarismos: 787. O novo jato da empresa, que ganha os céus daqui a dois anos, já conta com 128 pedidos firmes e outras 138 opções de compra. A expectativa é faturar US$ 400 bilhões nos próximos vinte anos só com a venda de 3.500 unidades do 787. Mais: a grande discussão em torno do novo jato norte-americano está no ?choque tecnológico? do projeto. A Boeing abdicou do tradicional alumínio na fuselagem e escolheu materiais como fibra de vidro, de carbono e plástico, para substitui-lo. Antes que os céticos se arrepiem, a Boeing explica que não se trata de um plástico qualquer. O consultor especializado em aviação, José Carlos Martinelli, concorda. Ele diz que a aviação do século XXI jamais consentiria o uso de materiais inadequados. ?Os órgãos mundiais de homologação são extremamente responsáveis com segurança?, diz.
Para o consultor, a celeuma criada em torno do ?plástico? teria sido caprichosamente sedimentada pela concorrência. Mas ela esconde a verdadeira discussão: Airbus e Boeing escolheram caminhos diferentes para encarar o futuro da aviação civil. A companhia francesa, através do gigantesco A380 (555 passageiros), acredita que as companhias aéreas irão promover menos vôos, mas em aeronaves com grande capacidade. Ao contrário disso, a Boeing acha que tudo permanecerá como hoje: mais vôos em aviões menores. Se estiver certa, a Boeing terá dado um grande passo rumo à retomada da liderança de mercado, perdida em 2003. Como benefício direto, os materiais compostos do 787 rendem uma economia de combustível de 20%, em alguns casos 30%. A Air Canada, por exemplo, que já encomendou 60 unidades do 787, garante que vai empregá-lo em rotas atualmente ocupadas pelo grandalhão 767. Apesar de considerado ?jato médio?, o 787 é versátil o suficiente para realizar rotas intercontinentais. Enquanto o grandalhão 767 leva até 245 passageiros (três classes) e possui autonomia para 10.500 km, o 787 poderá transportar 259 pessoas e se estender em vôos de 15.400 km. A boa notícia é que a companhia que poupar querosene, previsivelmente, irá abater o preço do bilhete aéreo. Para o bem da Boeing, tomara que dê certo.
![]() |
![]() |
US$ 114 milhões é o preço do novo avião da companhia americana |