As pessoas morrem com
bombas e tiros, mas antes que
isso aconteça elas são assassinadas por idéias. À frente das legiões americanas que se preparam
para marchar sobre Bagdá, avança uma idéia violenta, racista e economicamente inconfessável de Império. Os Estados Unidos vestem a máscara do combate ao tirano para esconder um ardil geopolítico, o de controlar pela força uma região que consideram vital. E há que fazê-lo antes que europeus, asiáticos ou os nativos estranhos o façam. O discurso oficial diz liberdade e democracia, mas a voz das bombas é mais eloqüente.

E o que ela conta é um desprezo profundo pela vida do
outro, sobretudo, e talvez sempre, se o outro não é branco,
europeu ou cristão.

Nada disso é novo na História. No século 16 os índios da América tombaram aos milhões, vítimas de uma idéia européia e cristã de expansão imperial nascida no berço sangrento das cruzadas. Foi um genocídio praticado com a Bíblia em uma mão e a espada na outra. Portugueses e espanhóis matavam e escravizavam enquanto os doutores da Igreja discutiam se os nativos americanos tinham ou não tinham alma. Trezentos anos depois, sob a tutela do Império Britânico, foi a vez dos asiáticos sentirem o peso da civilização européia. Quando o imperador da China tentou coibir o uso do ópio, que havia se tornado epidêmico no início do século 19, foi atacado pelos canhoneiros de Sua Majestade. As companhias britânicas detinham o monopólio do cultivo e venda da droga e não admitiam perder dinheiro.

No século 20, nazistas e estalinistas seguiram nos passos
dos seus antecessores. Sacrificaram milhões de vidas às suas próprias convicções de pureza racial e ideológica, com mais
que uma pitada de imperialismo. Hitler precisava das teorias de supremacia racial para justificar o desejo alemão de colonizar o leste da Europa. Stalin valeu-se da ditadura do proletariado para manter e expandir o império russo. Logo, o desprezo do cristão renascido George W. Bush pelas vidas estrangeiras não é novo. Quando se somam os interesses econômicos e políticos do Império com o messianismo de um ex-alcoólatra convertido, o resultado é obsceno mas não surpreendente. Em seus cinco séculos de hegemonia global a civilização ocidental e cristã tem demonstrado um descarado pendor para a violência. Bush, com suas limitações morais e intelectuais, é apenas mais um na longa tradição de cruzados imperialistas. Quer controlar o mundo e reformá-lo. Ou matar milhares de pessoas tentando.