28/01/2015 - 19:00
Quem frequenta salões de beleza sabe que, há mais de uma década, a Gama Italy (comercialmente, se escreve GA.MA.) é uma marca quase onipresente nas mãos de cabeleireiros e esteticistas do País. A empresa conquistou uma posição de destaque no mercado de secadores, chapinhas, depiladores elétricos, entre outros itens do gênero. O que poucos sabem é que, nos bastidores, a empresa passou, na gíria popular, do céu ao inferno, entre 2008 e 2010. Nesse período, perdeu espaço para a sua principal concorrente, a brasileira Taiff, e viu suas vendas despencarem 35% em decorrência de dificuldades na importação e falhas de produção, que resultaram em problemas de qualidade de seus produtos.
Não bastasse isso, as queixas em relação ao atendimento ao consumidor dispararam. “Fomos o pior inimigo de nós mesmos”, afirmou o presidente da empresa no Brasil, o argentino Felipe Leonard. “Foi um processo muito doloroso para a companhia, mas aprendemos muito com isso”, disse. De lá para cá, a Gama Italy, que nasceu na Itália e hoje é controlada pelo grupo espanhol Duna, promoveu mudanças drásticas em seu modelo de negócio. Toda a equipe comercial foi substituída, incluindo o próprio presidente. O sistema produtivo da fábrica, na Zona Franca de Manaus, foi aprimorado.
A reestruturação, segundo Leonard, fez com que os ventos começassem a soprar a favor da companhia. No ano passado, a Gama Italy registrou seu melhor resultado em vendas da história, com faturamento de R$ 180 milhões, um aumento de 25% na comparação com o ano anterior e o dobro em relação a 2010. Como toda empresa de porte médio, o desafio é crescer de forma sustentável, para virar grande. “A Gama está em um mercado muito promissor, que tem apresentado grande evolução em produtos e oportunidades”, afirma Osvaldo Nieto, presidente da Baker Tilly Brasil, parceira da DINHEIRO na elaboração do ranking As Melhores do Middle Market.
Parte desse crescimento se deve aos investimentos feitos pela companhia, que tem priorizado o lançamento de novos produtos e apostado em uma nova política de marketing. A fábrica de Manaus, inaugurada em 2006, também recebeu parte dessa atenção e durante as férias coletivas de final de ano foi totalmente redesenhada para elevar sua produtividade. A ideia é implantar o sistema Lean Manufacturing, ou produção enxuta, introduzido na indústria mundial pela japonesa Toyota. “Em algumas áreas poderemos aumentar a produção em 100%”, diz Leonard, sobre a primeira fase do projeto, já concluída.
“Esse ajuste também é necessário para tornar a fábrica competitiva em comparação com outras unidades da Gama Italy.” Além do Brasil, a empresa mantém operações na Argentina, Itália e China. Atualmente, 50% do que é vendido no País é produzido em Manaus. Outra parte dos bons resultados da companhia está ligada ao crescimento do mercado de beleza no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o setor vem crescendo 10% ao ano, em média, nas duas últimas décadas.
Os dados da consultoria Euromonitor mostram, ainda, que o mercado de eletroportáteis para cuidados com o cabelo apresentou um salto de 37,8% em vendas de 2009 a 2014 no País, quando movimentou R$ 1,5 bilhão. “Esse é um dos poucos mercados que, mesmo com desaceleração da economia, continuam a crescer dois dígitos”, afirma Leonard. Por isso mesmo, as apostas para 2015 são ainda mais ousadas. O executivo afirma que foram desenhados dois cenários para este ano. Se for um ano difícil, a empresa deve crescer 18%. “Mas a minha aposta é de 30% de aumento do faturamento”, afirma.
A expectativa é voltar a dobrar o tamanho da companhia em quatro anos. O plano de crescimento está ancorado nas estratégias já definidas para 2015. A empresa deve fazer sete lançamentos no País. Esses produtos, incluindo mais três que hoje já são comercializados no Brasil e importados da China, devem ser fabricados em Manaus. Além de secadores e chapinhas, a Gama Italy fabrica máquinas de cortar cabelo, depiladores, barbeadores, escova rotativa e balanças.
Outro motivo para acreditar em um crescimento forte neste ano é o contrato assinado com a P&G, em 2014. A Gama Italy será a distribuidora oficial dos barbeadores e depiladores da renomada marca de eletroportáteis alemã Braun, que pertence à companhia americana. Ao mesmo tempo, foi fechado um contrato de comercialização dos produtos com a Polishop. Além disso, mais um projeto deve sair do papel. A empresa vai entrar no mercado de saúde e bem-estar, com termômetros digitais e medidores de pressão.