O PRESIDENTE LULA ESBRAVEJOU recentemente contra a Petrobras. A bronca era o destino de 62% dos dividendos da empresa, que são depositados nas contas dos acionistas estrangeiros. O mandatário brasileiro esqueceu de mencionar que boa parte dessa divisão de lucros vai para o caixa da União, dona de 32,2% das ações. Essa é uma das participações importantes do governo federal na Bolsa de Valores. Acionista de dez companhias nacionais, a União tem R$ 172,9 bilhões em valor de mercado das empresas listadas na BM&FBovespa, segundo levantamento exclusivo para a DINHEIRO feito pela Economática. Ao lado do Poder Executivo estão outros 19 privilegiados, um pequeno grupo que tem sob controle 30% das 397 companhias listadas. Os donos da Bolsa controlam R$ 530 bilhões de um total de R$ 1,77 trilhão em valor de mercado das empresas nacionais, segundo dados do último dia 29 de agosto. Para chegar a esse resultado, foram considerados acionistas com mais de 5% de participação nas empresas, informação que consta no relatório obrigatório enviado por elas trimestralmente à Bolsa e à Comissão de Valores Mobiliários. ?Um fundo ou um acionista que tenha 4% em várias empresas pode não estar visível?, diz Fernando Exel, presidente da Economática. Se você é um desses pequenos investidores, é hora de conhecer quem são seus principais sócios.
O maior destaque é o peso das ações nas gavetas do poder público. Governo federal, Estados e BNDESpar têm 15% de todo o valor de mercado da Bolsa. Apesar da onda de privatizações durante a década de 1990, essa concentração foi pouco alterada nos últimos anos. As empresas de capital misto acumularam importantes altas, o que manteve a participação do setor público praticamente estável. ?O valor das companhias que foram estatais, como Banco do Brasil, Petrobras e Vale, cresceu acima do Ibovespa e compensou a venda de outros ativos?, conta Exel. A maior fatia pertence à União, embora não tenha havido compra de papéis ou abertura de capital de outras estatais ? recentemente passou-se a discutir se a Infraero, administradora de aeroportos, deve realizar o seu IPO. Os Estados também têm relevante espaço como acionistas. O governador José Serra guarda no Palácio dos Bandeirantes ações do banco Nossa Caixa, Cesp, Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), Sabesp e Transmissão Paulista equivalentes a R$ 10,6 bilhões de participação de mercado.

Diferente do domínio do Poder Executivo é a situação do BNDESpar. A empresa de participação do banco de desenvolvimento nacional aparece como a maior investidora por número de empresas, com 37 no total. ?O BNDESPar tem uma vocação diferente da da União. Ele incentiva a indústria nacional, participando da gestão e estratégia das companhias?, conta Edison Garcia, superintendente da Associação dos Investidores no Mercado de Capitais (Amec). Em vez de ser apenas um concessor de dinheiro, o banco de desenvolvimento comandado pelo economista Luciano Coutinho financia companhias estratégicas para o País e exige um alto nível de governança corporativa. Na sua carteira estão as gigantes Petrobras, Vale, Usiminas e CSN; médias e pequenas como a Totvs, Bematech e Nutriplant; empresas do setor de infra-estrutura, caso da ALL Logística, ou voltadas para a exportação, como a JBS Friboi e a Embraer. ?Além disso, o BNDES é um agente importante do mercado, dando liquidez, comprando e vendendo ações?, afirma Álvaro Bandeira, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec).
Outro que se destaca pela quantidade de empresas investidas é a Previ. O fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil não economiza nas compras. São 36 companhias de diferentes setores e tamanhos. Brasil Telecom, Itaú, Marcopolo, Randon e Usiminas são alguns exemplos. ?A Previ investe para o longo prazo e tem uma política de participar do conselho das empresas?, lembra Théo Rodrigues, diretor- geral do Instituto Nacional dos Investidores (INI). No total dos maiores acionistas, os fundos de pensão deixam a desejar e beliscam apenas 2,3% em valor de mercado das empresas com capital aberto. Com R$ 30,2 bilhões, o fundo presidido por Sérgio Rosa destoa das demais 58 previdências complementares e abocanha 73,25% desse bolo. Atualmente, o saldo médio dos fundos de pensão é de 36% do patrimônio aplicado em renda variável para uma permissão de até 49%. A tendência desse percentual diminuir nos próximos meses é grande. É só a Taxa Selic continuar sua trajetória ascendente para provocar uma corrida para títulos de renda fixa. Os juros básicos estão em 13,75% ao ano. ?O investidor brasileiro, em geral, tem vocação para a renda fixa?, ressalta Garcia, da Amec.

O EMPRESÁRIO JORGE PAULO LEHMAN POSSUI UMA EMPRESA QUE DETÉM 67% DO MERCADO DE BEBIDAS

O PRESIDENTE SÉRGIO ROSA, DA PREVI, TEM A SEGUNDA MAIOR CARTEIRA DE AÇÕES

Os donos da Bolsa têm nome, mas poucos trazem sobrenomes à vista. O único investidor pessoa física a aparecer nesse ranking é o empresário Eike Batista, sócio da LLX Logística, MMX Mineração e MPX Energia. ?Ele optou por ser acionista direto, embora o mais comum seja a criação de empresas de participações?, diz Exel, da Economática. Os títulos corporativos dos principais acionistas servem de refúgio para as famílias que estão por trás dos negócios. A Vicunha Siderúrgica, que está na oitava colocação com R$ 18,8 bilhões, é o escudo do clã Steinbruch, sócio da CSN, da Vicunha Têxtil e do Banco Fibra. Da mesma maneira, a Weg Participações e Serviços é a controladora da fabricante de motores elétricos Weg. Seu comando está com três tradicionais famílias do Sul: Voigt, Silva e Werninghaus. Outro exemplo é a Fertifos, dona da Fosfertil, que traz como maior controlador Wladimir Puggina.
 

Embora muitos escondam nomes desconhecidos do grande público, outros parecem ser o espelho de seus donos. É o caso da Interbrew, que administra a fabricante de bebidas Inbev. Jorge Paulo Lehman encabeça a empresa de capital belgo- brasileira que comprou a americana Budweiser em julho por US$ 52 bilhões. Em solo brasileiro, a turma de Lehman detém 67,3% de participação no mercado de cervejas e valor de mercado de R$ 30,5 bilhões. O exemplo pode ser estendido ao Santander. O banqueiro Emílio Botín começa a ser figura conhecida ao formar, em sete anos, o terceiro maior banco privado nacional. A última aquisição, que ainda não está contabilizada no cofre espanhol, é o ativo do Banco Real. Eles darão mais peso para Botín elevar sua participação atual de R$ 23,5 bilhões e ganhar algumas posições no ranking. Mas atenção, se você se interessou pelas ações do Grupo, apenas 2% delas são destinadas ao grande público.
Entre as instituições financeiras, o Bradesco é o maior acionista em Bolsa com R$ 30,6 bilhões em ações do banco (32,7%) e da Bradespar (18,7%). No ranking, porém, não aparece diretamente com seu nome mais conhecido. Lá, em seu lugar, estão a Cidade de Deus Companhia de Participações e a Fundação Bradesco, que aparecem separadas e ocupam, respectivamente, a sétima e a 15a posições. O grupo fundado por Amador Aguiar poderia estar com maior destaque caso pudessem ser somados os valores de mercado das empresas das quais a Bradespar é dona. A mais importante é a Valepar, proprietária da gigante de minérios Vale e segunda colocada, com 4% da BM&FBovespa.

O BANQUEIRO LÁZARO BRANDÃO É O QUARTO MAIOR, COM A CIDADE DE DEUS E A FUNDAÇÃO SÃO 114 EMPRESAS E R$ 530,7 BILHÕES EM PODER DOS GIGANTES DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO

E onde estão pesos pesados como as famílias Setubal e Villela, proprietárias do Itaú, Itaúsa e Duratex, e os Gerdau? Com o capital pulverizado nas mãos dos acionistas, eles entram na lista dos pequenos e ficam invisíveis. Essas informações só são conhecidas caso as empresas informem voluntariamente quem são os nanicos. Este é um ponto a ser melhorado. Nos Estados Unidos, é possível enxergar todos aqueles que negociaram papéis de empresas, independentemente da participação no total da companhia. Um grande investidor normalmente tem uma participação pequena que pode não ser maior que 10% das ações da companhia. É por esse motivo que as assembléias são realizadas em ginásios lotados. ?Um mercado bem distribuído é saudável para todos?, diz Rodrigues, da Amec. A concentração do mercado brasileiro é grande, mas tem se modificado aos poucos. Desde 2004, foram feitas 163 aberturas de capital e ofertas secundárias e o crescimento da participação de investidores pessoa física, com 530 mil contas cadastradas, contribuíram para reduzir o bloco de controle. ?Os investidores brasileiros têm ajudado a pulverizar o capital da empresa para que a figura do sócio majoritário não fique com tanta evidência?, diz Bandeira, da Apimec. De pouquinho em pouquinho, o pequeno investidor pode mudar a cara dos donos da Bolsa.