O juiz italiano Piercamillo Davigo, da Operação Mãos Limpas, presidente da seção criminal da Corte de Cassação da Itália, afirmou durante o Fórum Estadão Operação Mãos Limpas & Lava Jato, que a operação na Itália de combate à corrupção teve resultados surpreendentes e políticos foram afastados de seus cargos, mas outros políticos preferiram manter o silêncio.

“Aqueles políticos que ficaram calados, ou que escolheram ‘dizer apenas parte do que sabiam, tiveram carreiras políticas espetaculares”, disse o juiz logo na abertura de seu discurso. “Esse é um aviso que faço porque pode ocorrer o mesmo fenômeno (no Brasil).”

O juiz italiano ressaltou ainda que empresas envolvidas em esquemas de corrupção começaram a fazer “algumas escolhas internas, de contar aquilo que poderia ser descoberto”, reflexo das investigações da justiça da Itália naquele período, incluindo no sistema bancário. “Manter o silêncio é um direito, mas também uma negação da Justiça.”

Piercamillo Davigo ressaltou ainda que muitos empresários começaram a confessar seus crimes, mas muitos faziam carreira política e mantiveram o silêncio. “É um problema sobre o qual não refletimos muito na Itália, na época.”

Pastore

O economista Affonso Celso Pastore, diretor do Centro de Debates de Políticas Públicas, alertou que a corrupção não tem limites em rápido discurso na abertura do evento. Ele destacou que há clara associação entre a corrupção e a renda per capita. Os países mais desenvolvidos e com renda per capita mais elevada têm menores índices de corrupção. Já as economias mais pobres possuem nível mais elevado de corrupção.

O Fórum Estadão Mãos Limpas & Lava Jato foi aberto pelo diretor de jornalismo do Grupo Estado, João Caminoto. “Da mesma forma como a operação Mãos Limpas foi um marco na história da Itália, a Lava Jato está mudando o Brasil”, disse ele.