A nota enviada anteriormente contém uma incorreção. A resolução do Banco Central extinguiu a “comissão de permanência”, e não como constou. Segue o texto corrigido:

O chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Renato Baldini, disse nesta sexta-feira, 27, que o mercado de crédito no País em setembro manteve o comportamento observado nos últimos meses, com tendência de estabilização do saldo total, após um período de retração ininterrupta que veio desde o começo de 2016.

“Nos últimos três meses vemos uma tendência de estabilização do estoque em torno de R$ 3,050 trilhões”, afirmou Baldini. “Mas ainda não podemos falar em inflexão, porque os saldos ainda não começaram a subir. Há uma acomodação, pelo menos parando de se reduzir”, acrescentou.

Segundo Baldini, a expectativa do BC é que o estoque venha a crescer nos próximos meses com a recuperação da economia. “Já observamos sinais de retomada de alguns setores e o mercado de crédito reage a isso. Não se espera neste momento que o credito lidere a recuperação econômica, mas recuperação da atividade vai permitir que famílias e empresas retomem os financiamentos”, avaliou. “O crédito vai reagir à economia, e não impulsioná-la”, completou.

Ele destacou também a continuidade em setembro da redução nas taxas de juros, nos spreads e na inadimplência, e acrescentou que essas condições surgiram nos últimos meses. “Por isso também se espera que o crédito voltará a crescer. As condições estão dadas para que o crédito melhore. O equilíbrio maior da inadimplência vai favorecer o crédito, de maneira gradual”, afirmou.

Na avaliação de Baldini, a situação econômica dos últimos anos foi muito mais difícil do que na crise de 2009 e, por isso, teve mais impacto sobre o crédito. Ele ressaltou, ainda, que o mercado de crédito tem todas as condições para fornecer sustentação para a retomada econômica. “O sistema bancário brasileiro é bastante líquido e está bem capitalizado”, alegou.

Ele lembrou que a situação fiscal do País hoje também é mais complicada do que era no fim da década passada e, neste sentido, os bancos públicos têm tido uma atuação mais contida neste momento. “A tendência é que isso se mantenha, e então os bancos privados terão que cumprir um papel mais relevante desta vez”, apontou.

Baldini ressaltou que o quadro econômico e político ainda não está totalmente resolvido e apontou que algumas incertezas ainda afetam o mercado de crédito. Por isso, ele disse ainda ser difícil avaliar se o problema do crédito hoje é mais a oferta ou a demanda. “Também houve queda na demanda por crédito nos anos recentes, com o aumento do desemprego e as dificuldades dos setores corporativos. E houve com certeza um aumento da aversão ao risco pelas instituições financeiras”, relatou.

Pessoa física

O chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do Banco Central comentou que o ritmo de expansão do crédito para pessoas físicas é moderado, mas sustentado. “Essa expansão no crédito para PF é favorecido pela desalavancagem das famílias”, afirmou.

Para pessoas jurídicas, a tendência também seria de crescimento, acompanhando a retomada da atividade econômica. “O processo de reestruturação de dívidas das empresas foi importante e não está concluído”, acrescentou, citando o período recente de liquidações de operações de grande porte das firmas.

Baldini lembrou ainda que o volume de concessões de crédito em setembro teve impacto na comparação com agosto pelo fato de o mês ter tido três dias úteis a menos que o anterior.

Desconto de recebíveis

O chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do Banco Central disse que os destaques na concessão de crédito para pessoas jurídicas com recursos livres em setembro ocorreram no desconto de recebíveis e na antecipação de faturas de cartão. “As empresas têm um planejamento neste sentido. Em parte isso se refere a negócios já ocorridos, e outra parte se antecipa de fluxos futuros. Isso também foi observado em setembro do ano passado”, detalhou.

Já para pessoas físicas, os destaques em termos de concessões com recursos livres em setembro foram o crédito consignado e o financiamento de veículos. “O segmento de veículos é muito importante para o mercado de crédito e retrata bem o nível de confiança das famílias. O que temos visto em 2017 é uma estabilidade nos saldos e nos últimos meses um início de recuperação moderada”, relatou.

No crédito direcionado, por outro lado, Baldini destacou a continuidade da redução no ritmo de desembolsos do BNDES, que já chega a 12,7% nos últimos 12 meses. Já no crédito direcionado para aquisição de imóveis, a tendência é de crescimento gradual, avaliou.

Rotativo

O representante do BC comentou também que algumas instituições aumentaram as taxas de juros para o rotativo do cartão de credito em setembro, mas isso não foi um movimento generalizado. “O que parece que está havendo na verdade é uma acomodação”, afirmou.

Ele destacou que, apesar da alta de 6,1 ponto porcentual da taxa do rotativo regular em setembro, essa taxa caiu de 431,1% em março para 227,5% no mês passado. “Depois de uma queda tão forte, houve uma certa acomodação em setembro”, repetiu.

Baldini explicou ainda que a redução de 106,8 p.p. no juro no rotativo não regular em setembro – para 399,4% ao ano – está associada a uma resolução do BC que extinguiu a chamada “comissão de permanência” no começo do mês passado. “Essa era uma taxa de juros aplicada em operações de crédito em situação de inadimplência. A medida não visou apenas os cartões, cobriu todo o segmento de crédito. Mas o impacto foi maior mesmo no rotativo não regular”, explicou.