06/11/2017 - 12:56
A promessa da Inteligência Artificial é maravilhosa. Do ponto de vista econômico, são várias. Maior eficiência, redução de custos – especialmente com recursos humanos, né? –, agilidade no atendimento ao cliente e aumento na geração de negócios. Em áreas sensíveis então, como a saúde, nem se fala. Os robôs são mais precisos e, assim, podem conferir maior segurança em tratamentos complexos. Tudo isso em alguma medida já existe. As máquinas inteligentes já estão entre nós há um bom tempo, com ótimos serviços prestados em várias atividades, do trânsito ao varejo, do comércio eletrônico às finanças.
A promessa completa é que os robôs vão nos livrar das tarefas chatas, braçais, rotineiras e até mesmo as extremamente complexas e em que nunca seremos páreos para os cérebros eletrônicos, como análise e cálculos. Assistentes virtuais nos ajudarão em tudo, até escolher e fazer reservas para nossa próxima viagem de turismo.
Teremos mais tempo para pensar os negócios, a sociedade, a vida. A nós, humanos, caberia a parte nobre da jornada, o trabalho criativo. Ou, em outras palavras, liderar robozinhos de todos os tipos. É bom ir devagar. A vida não é tão simples assim, e os riscos para a humanidade são enormes. Até mesmo a ideia que vamos liderar os robôs não é tão segura, assim como a visão de que os trabalhos que exigem alta qualificação estão preservados.
É fato que a Inteligência Artificial nos auxilia em vários aspectos, como os citados no começo do texto. Mas também é verdade que é necessário conversar seriamente sobre o seu lado obscuro, antes que seja tarde demais. Os principais problemas gerados pela AI são éticos e sociais.
O grupo de cientistas e pensadores da tecnologia que aponta os riscos do uso desenfreado das máquinas super inteligentes é crescente e reúne gente como Stephen Hawking e Elon Musk, criador da Tesla e da Space X, talvez o principal visionário e expoente da tecnologia da atualidade.
Vamos começar pela ética.
Uma das questões nesse tópico é o controle dos dados gerados e o uso que se fará deles. Exemplo: a AI na medicina vai lidar com uma quantidade gigantesca de dados dos pacientes, informações que estarão à disposição de seguradoras de saúde. Já imaginou o que pode ser feito com informações tão valiosas como essas? Será possível prever, por exemplo, a probabilidade de uma pessoa desenvolver determinadas doenças e, assim, aceitá-la ou não como cliente ou estabelecer um preço mais elevado pelo serviço.
Robôs assassinos
Os campos criminal e militar também trazem pontos importantes. Já estão sendo desenvolvidas armas autônomas que, em poucos anos, poderiam deflagrar uma nova revolução nas guerras. Há dois anos, um grupo de cientistas assinou uma carta aberta contra a criação de robôs militares autônomos que prescindam da intervenção humana para funcionar. Segundo os pesquisadores, seria questão de tempo para essa tecnologia comece a aparecer “no mercado negro e nas mãos de terroristas, ditadores e senhores da guerra”.
Entre os que assinaram o texto estão Hawking, Musk e o cofundador da Apple, Steve Wozniak. “Elas são ideais para assassinatos, desestabilização de nações, subjugação de populações e crimes seletivos de determinadas etnias”, escreveram os cientistas, que defendem o uso da inteligência artificial para proteger seres humanos, especialmente civis, nos campos de batalha. “Começar uma carreira militar nas armas de inteligência artificial é uma má ideia”, advertem.
No campo social e econômico também há perigos. É óbvio que a busca por competitividade é questão de sobrevivência no mercado, e que isso passa pela otimização de recursos. Mas a que custo social? Acreditar na promessa de que os robôs não promoverão o desemprego em massa porque a inteligência artificial vai abrir novas profissões e oportunidades – bastaria capacitar a mão de obra para essa nova realidade – é como acreditar em Papai Noel.
Além de Musk e Hawking, Bill Gates também já expressou seu temor quanto aos riscos sociais de bilhões de humanos sem emprego. Para ele, não é nada saudável um mundo em que máquinas roubem postos de trabalho em massa, deixando os humanos em clara desvantagem competitiva. Ele até propôs uma medida para tentar amenizar o problema. “Hoje, se um humano produz uma receita de US$ 50 mil numa fábrica, aquele montante é taxado. Se um robô é capaz de fazer a mesma coisa, seu trabalho deve recolher impostos na mesma proporção.”
O tributo seria cobrado dos fabricantes dos robôs, o que poderia desestimular a automação completa das linhas de produção. Para Gates, esses recursos deveriam ser aplicados em programas de capacitação de funcionários que perderam seus empregos.
O ponto importante a destacar é que, seja qual for a medida a ser tomada, é fundamental refletirmos rapidamente sobre o rumo que as coisas estão tomando. O avanço científico deve ser saudado e não impedido, mas isso não quer dizer que tenhamos de dizer “amém” a todas as promessas da tecnologia.