17/11/2017 - 8:32
Ela é a rainha do som africano do kuduro e a primeira cantora a assumir a transexualidade em Angola. Titica é querida pelas crianças e se tornou ídolo pop em seu país, mesmo diante do conservadorismo. Hoje, faz grande sucesso também fora da África. No Brasil, esteve no palco Sunset do Rock in Rio, onde junto com o grupo BaianaSystem misturou o som africano do kuduro com o ritmo de Salvador.
A cantora será a entrevistada do programa Conversa com Roseann Kennedy, que vai ao ar segunda-feira (20), às 21h30, na TV Brasil.
Titica, que chegou a sofrer com a discriminação no início da carreira, relembra sua trajetória marcada pela violência. Diz que quando tinha 20 anos era obrigada a esconder o jeito de andar, que é mais feminino. “Quinze anos atrás, apedrejavam, batiam. Eu já fui apedrejada, já me deram com garrafas na cabeça.” Por isso, muitas vezes foi obrigada a esconder quem realmente era.
Sobre o preconceito que teve de enfrentar, a artista desabafa: “As pessoas homofóbicas são cegas. Você consegue se impor, falar com uma pessoa que é homofóbica, que não te conhece… Falar bem, mostrar quem você é… Mostrar que não é um bicho de sete cabeças e mudar a mente dela”. Para Titica, nessas situações nunca convém partir para o enfrentamento. “Eu acho que as ações das pessoas têm que falar mais alto, não precisa bater de frente, e sim agir.”
Nascida na periferia de Luanda, de onde vem também o kuduro, Titica lamenta que a música e a dança ainda sejam marginalizadas e criticadas por algumas pessoas. O ritmo, que significa “bumbum duro”, faz referência aos movimentos corporais da coreografia. “O kuduro ainda é muito marginalizado em Angola, já foi mais. Em princípio, por causa da forma de nos apresentar, de falar, porque não seguimos o padrão da sociedade”. Para ela, a alegria e o ritmo do kuduro é que atraem o público.
Titica, que sempre gostou de arte, apostou em várias profissões, sempre com a mesma determinação. “Nasci para brilhar e de qualquer jeito vou ser famosa”. Ela tentou ser modelo, atriz e foi bailarina durante muitos anos. Hoje, se orgulha da carreira. “Fui considerada a melhor bailarina do kuduro, porque eu dançava e levantava o público como se fosse cantora. Acho que já tem uma estrela em mim”. Só depois, a música entrou em sua vida.
Ela, que gosta da cantora Alcione e do Nego do Boréu, se diz fã da música brasileira. Depois de gravar a música Capim Guiné com o grupo BaianaSystem, conhecido pelas letras e músicas politizadas, a artista trans tem o sonho de gravar com a Pabllo Vittar e unir o Brasil e a África numa luta contra o preconceito. “Adoro parcerias onde a gente aprende mais, com a troca de música, países a países. É um intercâmbio muito bom.”
Sobre as aspirações, a cantora diz que pretende levar o seu nome aos quatro cantos do mundo e continuar sendo uma mulher de sonhos. Ao Brasil, deixa um agradecimento especial e, em tom de brincadeira, se despede sem dar chance aos olhares invejosos. “Obrigada Brasil por ser receptivo comigo. Eu continuarei sendo a Titica que aguenta tudo e não tem medo de nada. Que bate na madeira e seca todo mau-olhado.”