“TODO HOMEM QUER CASAR com mulher bonita e ter carro bonito. E toda mulher quer casar com homem bonito e ter carro bonito. À medida que facilita a vida da gente e dá para colocar a prestação no contracheque, todo mundo vai poder ter um carro.” A frase é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso na fábrica da Ford, na Bahia, no final do ano passado. Nos primeiros três meses de 2008, mais de 617 mil brasileiros seguiram o conselho do presidente, ou pelo menos um deles: compraram um carro. Apenas em janeiro, os financiamentos de veículos chegaram a R$ 114 bilhões. Se você embarcou nessa onda, responda rápido: sabe exatamente quanto custou o seu carro?

Além dos juros bancários, outras taxas estão embutidas no financiamento: IOF, TAC e retorno dos lojistas. Todas se resumem na nova CET, denominação criada em março. Tantas siglas significam cifras a menos no seu bolso. A CET representa o custo efetivo total. Foi a maneira encontrada pelo Banco Central para colocar em uma mesma cesta todas as taxas pagas pelo consumidor no financiamento. A soma inclui a taxa de juros cobrada pela instituição financeira, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a Taxa de Abertura de Crédito (TAC) e as despesas com terceiros (leia quadro). É nesse item que está incluída a comissão da revendedora pelo financiamento do seu carro. Se a loja vende um CDC ou leasing para você financiar o carro dos sonhos, quem paga a comissão dessa venda – pasme! – é você. Os lojistas a chamam de “retorno”.

O retorno varia de 1,2% a 21,6% do preço do automóvel, conforme o Estado (leia quadro abaixo). Diluído no valor da parcela, o consumidor nem percebe. “O cliente não quer saber quanto de juros será cobrado. Ele compra se a parcela couber no bolso”, explica Regina Maestrello, gerente da revendedora Viamar. Apesar do detalhamento obrigatório do CET, o comportamento dos consumidores pouco mudou. “Eles não perceberam e nem perguntam o que é o CET.”

Como não existe lei determinando a comissão dos lojistas, cada um aplica a taxa que quiser. O retorno mínimo (chamado de R1) é de 1,2% do valor total do veículo. A escala vai até R18. Na prática, juros de financiamento muito baixos são acrescidos de uma alta taxa de retorno. E o consumidor só vai se dar conta se fizer pesquisa de preço. “Muitas vezes, uma taxa de juros mais baixa significa um retorno maior para o lojista”, alerta Miguel de Oliveira, economista- chefe da Associação Nacional dos Executivos de Finanças.

Segundo o Procon-SP, a cobrança da comissão dos lojistas feita diretamente aos consumidores é ilegal, pois contraria o Código de Defesa do Consumidor. Se o comprador se sentir lesado, pode recorrer à Justiça. “Se não conseguirmos resolver o problema amigavelmente, o consumidor pode ir direto ao Poder Judiciário contra os bancos”, diz Renata Reis, técnica do Procon-SP.