06/12/2017 - 9:45
Tratado como “vice dos sonhos” pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Marco Maciel sempre dizia que não tinha inimigos. “Adversários, poderia tê-los, mas inimigos nunca.” A frase resume o pensamento do pernambucano exaltado como um dos mais discretos e hábeis articuladores políticos da história recente do País.
A biografia “Marco Maciel: um artífice do entendimento” (Editora Cepe), escrita pelo jornalista Angelo Castelo Branco, retoma a trajetória do político que esteve perto do poder desde que ingressou na vida pública: foi deputado, senador, governador biônico, ministro no governo de José Sarney, líder do governo no Senado de Fernando Collor, além de vice-presidente nos dois mandatos de FHC.
O livro, lançado nesta terça-feira, 5, em Brasília, narra desde o acerto político que o levou a conhecer a mulher, Anna Maria, na época em que concorria à reeleição na presidência do Diretório Central dos Estudantes de Pernambuco, na década de 1960, à derrota eleitoral em 2010 na disputa por uma cadeira no Senado.
O lançamento, na biblioteca do Senado, teve a presença de antigos aliados, da mulher e do filho de Maciel, o advogado João Maurício Maciel. “Uma grande marca dele é a conciliação. Sempre foi o que ele gostou de fazer. Falta para a política brasileira hoje um conciliador como ele”, disse o filho.
Pacote de Abril
Além de exaltar as qualidades do biografado, o autor trata de momentos delicados para o político pernambucano, como o fechamento do Congresso pelo general Ernesto Geisel, em 1977, quando Maciel presidia a Câmara. O episódio ficou conhecido como Pacote de Abril.
Sem entrar em detalhes, o autor opta por transcrever longo depoimento do próprio Maciel dado à época. Nele, o então deputado da Arena aborda a negociação com o presidente militar para reduzir a abrangência da medida, considerada uma das mais polêmicas do regime. “Ali foi um recuo, mas que propiciou algum tipo de avanço”, disse Maciel ao lembrar do episódio.
As declarações e os pronunciamentos antigos de Maciel são recorrentes na obra de 226 páginas de Castelo Branco. Hoje, aos 77 anos, diagnosticado com Alzheimer, não consegue pronunciar nem sequer uma palavra.
O autor também reúne depoimentos de personalidades que conviveram com o biografado ao longo de sua carreira. Entre elas FHC, que assina o prefácio e destaca que a obra vem em boa hora, em um período em que a polarização de opiniões e o clima de guerra de torcidas toma conta das discussões sobre política. “Meu convívio com Marco Maciel foi muito bom, inexplicavelmente”, admitiu FHC, para mais tarde se explicar: “No jargão mais simples eu deveria considerar Marco Maciel como ‘homem de direita’ e ele a mim como um ‘esquerdista'”.
Já no fim, o autor reproduz relato de um ex-assessor de Maciel que dizia incentivá-lo a colocar suas memórias políticas em um livro. A sugestão, porém, foi recusada pelo político. Seu argumento foi o de que, se contasse o que sabia em seu mais de meio século perto do poder, iria magoar muitas pessoas, dando mais uma mostra do seu caráter conciliador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.