13/12/2017 - 17:59
Em depoimento prestado hoje (13) à Justiça Federal, o publicitário Maurício Cabral admitiu ter recebido R$ 240 mil e emitido em troca uma nota fiscal por um serviço que não realizou. No entanto, ele negou participação em qualquer esquema de corrupção. Maurício é irmão do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Ambos estão entre os seis réus de um processo que investiga lavagem de dinheiro obtido como propina. O depoimento foi colhido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), a Estalo Comunicações, empresa de Maurício Cabral, teria recebido R$ 240 mil em 2011 e emitido nota falsa para a Survey Mar e Serviços Ltda, firma de fachada utilizada pelos denunciados. Também teriam sido lavados R$ 1,266 milhão por meio da Araras Empreendimento, empresa da ex-mulher de Cabral, Susana Neves; e R$ 193 mil intermediados pela LRG Agropecuária, de Carlos Miranda, apontado como um operador do esquema.
Apesar de ter confirmado o recebimento da quantia, Maurício Cabral afirmou desconhecer sua origem. “Comentei com Carlos Miranda: ‘se você tiver algum cliente para me indicar’. Tempos depois, ele me procurou dizendo que ia ter um trabalho pra gente fazer junto. E falou: preciso que você emita nota. Me passou termos cadastrais e o valor foi depositado na minha conta. Sempre que eu encontrava com Carlos, eu cobrava. E o trabalho? Mas o trabalho não vinha”, relatou Maurício.
Na versão do irmão do ex-governador, a nota foi emitida para um serviço que ele esperava que seria realizado no futuro. Ele afirmou que nunca solicitou a quantia de R$ 240 mil, mas não suspeitou que pudesse se tratar de um esquema de corrupção. “Tenho total confiança no Carlos Miranda. Então se ele me indicou um cliente, eu vou”.
Firma de papel
Também depôs o contador Alberto Conde, proprietário da Survey Mar e Serviços Ltda. Ele admitiu ter emitido notas fiscais frias e ter transferido recursos para a Araras Empreendimento, a Estalo Comunicações e a LRG Agropecuária. Segundo o contador, a Survey Mar e Serviços Ltda era uma firma “de papel” e o dinheiro repassado chegava até sua empresa por meio de depósitos da FW Engenharia, empreiteira de propriedade de Flávio Matos de Werneck. A construtora assinou vários contratos com o governo do Rio de Janeiro durante os mandatos de Cabral.
Alberto Conde foi contador até 2011 da FW Engenharia e declarou ter relação próxima a Werneck. “Eu quis fazer um favor para uma pessoa que eu conhecia há dez anos”. Ele negou que tenha tido qualquer benefício e afirmou que não recebeu nada além dos seus honorários como funcionário da empreiteira. Disse também não conhecer pessoalmente o ex-governador Sérgio Cabral, seu irmão Maurício Cabral e Carlos Miranda.
A denúncia do MPF se originou das operações Calicute, Mascate e Eficiência, que por sua vez são desdobramentos da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Os seis réus são Sérgio Cabral, Carlos Miranda, Maurício Cabral, Suzana Neves, Flávio Werneck e Alberto Conde. Para os promotores, as empresas envolvidas buscariam dar aparência de legalidade à verba de propina obtida por uma organização liderada pelo ex-governador. Em outros três processos envolvendo esquemas de corrupção, Cabral já foi condenado em primeira instância com penas que somam 72 anos de prisão. Atualmente, ele está na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro.
Flávio Matos de Werneck e Susana Neves inicialmente seriam ouvidos hoje, mas o juiz Marcelo Bretas adiou ambos os interrogatórios para o dia 18 de dezembro. Na ocasião, também irão depor Sérgio Cabral e Carlos Miranda.