O crédito no Brasil já está apresentando tração, de acordo com o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. Enquanto do lado da pessoa física e das pequenas e médias empresas, por parte das linhas de capital de giro, já há procura por crédito novo, entre os grandes grupos, apesar da carteira ainda estar em queda, ele acredita na retomada no próximo ano.

“O pior momento da crise do crédito corporativo passou. Devemos ver uma boa taxa de crescimento dessa linha no ano que vem. O aumento da demanda de crédito é evidente no número de propostas diárias”, explicou ele, em almoço com a imprensa, nesta tarde de quinta-feira, 14, acrescentando que o banco tem notado expansão de crédito novo nas agências e não só aqueles para reperfilar e renegociar dívidas.

Trabuco reforçou que a recessão do País foi tão profunda que gerou capacidade ociosa no setor produtivo e, portanto, qualquer sinalização do aumento do consumo será positiva para a reação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O consumo das famílias, de acordo com o executivo, ficou muito deprimido e a indústria automobilística é um bom exemplo desse cenário.

No entanto, conforme o presidente do Bradesco, as pessoas que mantiveram seus empregos estão comprando imóvel e trocando de carro, o que tende a movimentar o crédito e, consequentemente, a economia brasileira. Do lado das empresas, acrescentou, a linha de capital de giro voltou a crescer no último trimestre após dois anos de queda. “Temos o consumo das famílias e dependência da taxa de investimento como fatores de crédito para 2018”, destacou Trabuco.

Spreads

A redução dos spreads, diferença de quanto os bancos pagam para captar e o quanto cobram para emprestar, no Brasil é apenas uma questão de tempo, mas vai acontecer no momento adequado, de acordo com Trabuco. “Alguns spreads mais elevados custeiam a bancarização no Brasil”, destacou ele.

Também presente, o vice-presidente do Bradesco, Alexandre Gluher, afirmou que não dá para “cair no pecado” de achar que os spreads vão cair na mesma proporcionalidade da Selic. Isso porque, conforme o executivo explicou, as taxas cobradas dos clientes são formadas por vários itens e não só os juros básicos. Pesam ainda, segundo ele, os custos tributários, a inadimplência, que está em queda no Brasil, as despesas operacionais, etc.

No entanto, Gluher ressaltou o esforço dos bancos para serem mais eficientes, contribuindo para a redução dos spreads ao cliente final.

Compulsórios

A redução dos depósitos compulsórios no Brasil pode contribuir para a queda dos spreads assim como o custo tributário dos bancos, de acordo com Gluher. “A redução de compulsórios pode melhorar ainda a oferta de crédito à medida que possamos aplicar esses recursos com mais eficiência e a competição entre os bancos”, destacou o executivo, em conversa com a imprensa, nesta tarde.

Gluher lembrou ainda que, embora o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, tenha mencionado a redução dos compulsórios em seus discursos recentes, não há um prazo para que esse movimento ocorra. De acordo com Gluher, o Bradesco tem condições e vai crescer sua carteira de crédito no próximo ano a despeito de uma movimentação no compulsório por parte do regulador.

Ele afirmou que o mercado em geral deve crescer entre 4,5% e 6% no ano que vem e que o Banco tem condições de apresentar expansão ligeiramente acima desse intervalo. Não mencionou, contudo, as projeções do Bradesco para o ano que vem, que, segundo ele, estão sendo debatidas ainda.

“A redução dos compulsórios no Brasil é questão de tempo. Basta o País dar certo”, destacou Trabuco, que acrescentou que os bancos não ficarão com “liquidez empossada”.