Há quase oito anos, quando ingressou na Pandora – rede de joalherias dinamarquesa que, à época, era apenas uma startup com duas lojas no Brasil -, Rachel Maia tinha um objetivo simples: abrir uma terceira unidade, no Shopping Ibirapuera, em São Paulo. Foi pedir ajuda ao presidente global da época. O valor era relativamente baixo, mas, mesmo assim, ouviu um não. “Ele me disse: não vou te dar dinheiro enquanto você não me der dinheiro.”

Com a negativa, Rachel virou, mexeu, pechinchou e deu um jeito de fazer a inauguração com os recursos que já tinha em mãos. Um espaço tímido, de 35 metros quadrados, mas que ainda está no “top 5” das vendas da rede, que agora contabiliza mais de cem unidades no País, entre lojas próprias, franquias e quiosques.

“Se a loja do Ibirapuera não desse resultado, eu perderia meu emprego, mas resolvi fazer mesmo assim. Temos de ser os donos das nossas escolhas.” A lição de que é preciso arriscar e atravessar períodos amargos com otimismo foi um ensinamento que aprendeu desde cedo com a família.

Caçula de sete irmãos, Rachel foi criada na região de Cidade Dutra, zona sul de São Paulo. “Um frango tinha de ser suficiente para todo o almoço de domingo, para 11 pessoas, pois dois primos também viviam conosco. Então, minha mãe decidiu assim: em um mês, uma pessoa comia o peito, no outro, a coxa. Tinha de passar pela parte mais dura para ter direito à coxa deliciosa. Mas se tinha sempre algo bom para esperar.”

Nos anos 1990, quando ainda dava os primeiros passos na carreira, Rachel fez sua primeira ousadia. Decidiu usar o dinheiro da rescisão do emprego como contadora na finada operação da rede de conveniências Seven Eleven no País para fazer um curso de inglês no Canadá.

“Eu estudei em escolas públicas, então aprendi o que estava na grade, o que era basicamente o verbo ‘to be'”, lembra Rachel. O desafio, na época, era contar ao pai, Antônio, que parte da rescisão não seria usada para ajudar nas contas da família. “Meu pai sempre nos ensinou o que era a vida adulta, por isso sempre tive de pagar a conta de luz ou de água de casa.”

Após a temporada no Canadá, conseguiu um emprego na farmacêutica Novartis. Queria continuar no setor indústria, mas o acaso a levou para a marca de alto luxo Tiffany’s. A empresa procurava um diretor financeiro – e o RH global exigiu que pelo menos uma mulher estivesse na disputa. E Rachel decidiu participar a pedido de um headhunter.

Ficou na companhia por sete anos, até sair para desenvolver o negócio da Pandora – marca fundada em 1982, que faturou US$ 800 milhões em todo o mundo em 2016. “Acho que a questão do currículo ajudou muito, mas eu também tive a sorte de estar no lugar certo, na hora certa.”

Liderança

Após três anos seguidos de crise, os números da Pandora voltaram a melhorar no Brasil, que hoje é considerado um dos mercados de alto crescimento da rede. “Cumpri minhas metas nos últimos oito meses”, diz Rachel, que também faz parte de um grupo de 13 executivos globais que participa de um programa global de liderança da companhia.

“Sou uma líder, e me defino como tal”, diz Rachel. Ela participa de um grupo de WhatsApp de altas executivas e diz que “está abrindo uma picada” para a liderança feminina virar realidade no País – hoje, elas são apenas 4% do total de CEOs brasileiros. Além da questão de gênero, a executiva também quebrou a barreira racial. “Faltam mulheres nas mesas de decisão, falta diversidade. É uma mudança de cultura, mas alguém tem de começar a fazê-la.”

Para 2018, além de manter a expansão da Pandora, Rachel tem planos pessoais ambiciosos. Mãe de Sarah Maria, de 8 anos, ela está na fila da Justiça para adotar um menino. “Já estava na fila para adoção quando engravidei por acaso, quando tinha 40 anos. Pedi para adiar na época, mas agora estou perturbando o juiz para que o processo ande mais rápido.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.