12/02/2018 - 7:19
Em defesa do carnaval carioca, da qual, aos 90 anos, é símbolo, a Mangueira fez um desfile tão belo quanto combativo, e despontou como uma primeira favorita ao título do Grupo Especial. A agremiação exaltou escolas de samba e blocos de rua e criticou abertamente o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), que apareceu numa alegoria na figura de um boneco enforcado, como um Judas, junto aos dizeres, extraídos do samba: “Prefeito, pecado é não brincar o carnaval”. Foi uma alusão ao apoio que o mundo do carnaval deu ao então candidato em sua campanha de 2014 e ao corte que ele, eleito, fez posteriormente nas verbas para os desfiles.
Mais esperada desta primeira noite do Grupo Especial, por conta do enredo crítico, “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”, a Mangueira passou bem vestida e com carros alegóricos de grande beleza plástica. O carnavalesco Leandro Vieira prometeu que os componentes iriam desfilar brincando, e não engessados por fantasias pesadas, e eles cumpriram à risca.
Vieira escolheu tons pouco usados de verde e rosa, mais suaves, e mesclou listras e florais em carros e em alas que representaram blocos tradicionais, como o Bola Preta, o Cacique de Ramos e o Bafo da Onça, além de grupos do novo carnaval de rua do Rio, que trazem outros estilos musicais ao samba.
Foliões vieram de pirata, diabo, índios, com Vieira no meio, saudando o público. Um deles, o ator Pedro Monteiro, estava de “Cristo proibido”, copiando a lendária escultura de Joãosinho Trinta vetada a mando da Igreja Católica na Beija-Flor do ano de 1989. Sobre um plástico preto, estava escrito “Orai por nós, porque o prefeito não sabe o que faz”.
Os antigos carnavais não ficaram de fora. No carro do botequim, saíram sambistas mangueirenses, como Alcione e Lecy Brandão, tendo Nelson Sargento no centro, como um rei, junto a artistas de outras escolas.
O verso do samba “se faltar fantasia, alegria há de sobrar” não se comprovou: a Verde e Rosa estava bem acabada e muito animada, com componentes cantando com vontade as alfinetadas a Crivella. Ele é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e procura se manter afastado do carnaval para não desagradar sua base de apoio evangélica, que condena a festa. Essa semana, ele disse que valoriza o carnaval, mas ressaltou que a cidade tem outras prioridades.