Um trecho de 30 metros da Ciclovia Tim Maia, entre o Leblon e São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro, cedeu na madrugada desta quinta-feira, 15, por causa do temporal. Ninguém se feriu. Em abril de 2016, em decorrência de uma ressaca, outra parte da via, suspensa, sobre o mar, já havia desabado, matando duas pessoas. Engenheiro especializado em transportes, o prefeito em exercício do Rio, Fernando MacDowell, disse que o projeto, da gestão anterior, foi mal dimensionado, precisa ser totalmente interditado e refeito.

“Tudo isso aqui está absolutamente podre, já acabou, tem que fazer tudo outra vez e não deixar ninguém andar. Eu já proibi meus filhos de vir andar de bicicleta”, afirmou Mac Dowell. “Foi feita com pressa, malfeita desde o início. Eu falei isso na época, mostrei que não ia dar certo, e não gostaram muito. Quando a gente faz um projeto, tem que prever todas as possibilidades de erro. Qualquer chuva mais forte pode ser uma tragédia.”

Mac Dowell é vice-prefeito desde janeiro de 2017 e até mês passado era também secretário municipal de Transportes. Foi a primeira vez que ele, no cargo, condenou a ciclovia, construída pelo governo Eduardo Paes (MDB) no escopo das obras para a Olimpíada de 2016. Quando a ciclovia desabou em 2016, Paes afirmou se sentir responsável pelo acidente. Ele prometeu buscar os culpados pelo que aconteceu e afirmou não aceitar a desculpa de que a natureza seria a responsável pela queda. Na época, disse não saber se houve falha de projeto ou de execução.

O Ministério Público Federal (MPF) já havia condenado a reabertura da ciclovia após o primeiro desabamento – ocorrido três meses depois de sua inauguração. Os procuradores acreditam que não haja elementos que comprovem que ela é segura.

No momento do acidente desta quinta, a pista estava fechada em função do temporal. Assim seguirá, segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, mas somente no trecho destruído. Este era apoiado no solo.

A pasta informou que o solo erodiu por causa da infiltração da água da chuva. Essa perda não é comum na região, afirmou, mesmo em casos de tempestade. Tudo indica que as canaletas de drenagem estavam entupidas, o que provocou o acúmulo de água e o deslizamento da terra.

A Odebrecht, que fez este trecho da obra, foi acionada para fazer os reparos. A secretaria informou que a empresa não tem responsabilidade sobre o que houve, porque não se tratou de uma falha na execução do projeto. A Odebrecht divulgou nota apontando que “a rede de drenagem não pertence ao escopo da obra”.

O engenheiro Alexandre Rojas, professor da Universidade do Estado do Rio (Uerj), considera que a ciclovia foi mal construída e que novos acidentes podem acontecer caso não seja refeita. Mais barato e seguro, ele afirma, seria reprojetá-la.

“Assim como as ondas na parte suspensa da ciclovia não eram novidade, temporais nessa época do ano também não são. Isso tinha que ter sido calculado, ninguém pode dizer que não sabia que o solo era instável.”

O engenheiro Manoel Lapa, integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), disse que o entupimento do sistema de drenagem por ter sido por amontoamento de lixo ou por falha na compactação do solo. O Crea produziu um estudo que concluiu, há um ano, que a ciclovia não oferece condições de segurança, por apresentar problemas nos pilares e na cobertura.