A política tributária do presidente Donald Trump é, na teoria, bem intencionada. Ao generosamente cortar impostos das empresas, o presidente americano quer estimular novos investimentos e atrair os empregos que migraram para outros países. Na prática, no entanto, o tiro pode sair pela culatra. O incentivo fiscal tende a ferver uma economia já aquecida, gerando inflação. Sob nova direção – saiu Janet Yellen e entrou Jerome Powell –, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) terá de elevar a taxa básica de juros várias vezes para controlar a alta dos preços, causando uma migração de recursos do mundo inteiro para os títulos do Tesouro americano (leia reportagem aqui).

Os emergentes, incluindo o Brasil, serão as principais vítimas. Além disso, os juros mais altos desaqueceriam a economia e o resultado final será uma queda na arrecadação, piorando o rombo fiscal que tende a crescer com o corte de impostos. Tal situação pode levar as agências de classificação de risco a rebaixar a maior economia do mundo. É um risco tão relevante que os investidores, assustados, não sabem se compram ou se vendem ações nas bolsas americanas, após um longo período de euforia gerada pelos juros próximos de zero.

O maior equívoco de Trump, a meu ver, foi estimular a economia num momento de forte crescimento. Mais do que equivocada, é uma decisão totalmente desnecessária. O republicano herdou do democrata Barack Obama um país decolando, com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo acima de 2% há vários anos. A taxa de desemprego, que atingiu 10% em 2009, está hoje em apenas 4,1%, patamar que pode ser considerado de pleno emprego. É verdade que os salários ainda não se recuperaram totalmente da crise do subprime (mercado imobiliário), em 2008, mas a falta de mão de obra já começou a jogar a favor dos trabalhadores, que estão negociando vencimentos mais polpudos. Se a economia for superaquecida, como deseja Trump, os salários em alta vão pressionar a inflação, obrigando o Fed a elevar os juros, com efeitos negativos sobre o PIB e a arrecadação, conforme mencionado no parágrafo anterior.

Nem sempre é recomendável traçar paralelos entre a economia americana e a brasileira, dado o tamanho desproporcional entre elas. Mas, neste caso, vou me arriscar a mostrar dois fracassos do governo Dilma que poderiam servir de alerta a Trump. O primeiro deles ocorreu em 2011, quando a petista herdou do padrinho Lula um PIB que crescia num ritmo de 7,6% ao ano. O bom senso recomendava uma política econômica austera, com corte de gastos públicos e menos estímulo ao consumo. Dilma, no entanto, manteve os impulsos. O fim da história é conhecido e inclui alta de juros e rombo fiscal. O segundo fracasso do governo Dilma nasceu de uma ideia bem intencionada.

A exemplo de Trump, o governo brasileiro adotou, a partir de 2011, uma política fiscal expansionista através da desoneração da folha de pagamentos de diversos setores. A aposta era a de que os empresários teriam mais dinheiro em caixa para investir, gerando renda e emprego. Na prática, os cofres públicos ficaram na míngua, sem que houvesse um crescimento robusto. No caso americano, ainda não é possível cravar que o desastre é iminente. Enquanto o presidente segue firme na sua política econômica expansionista, os investidores começam a desconfiar do seu sucesso. Cabe ao Brasil se preparar para ventos desfavoráveis num futuro não tão distante, e isso inclui aprovar a reforma da Previdência. Afinal de contas, Trump pode afundar os EUA e o mundo.