Em entrevista, no Palácio do Planalto, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, respondeu, ao ser perguntado se considerava que existia risco de, durante as operações no Rio de Janeiro, em troca de tiros de fuzis entre polícias e bandidos, ocorrer uma “carnificina”, atingindo a população que, “esse risco sempre existe”.

O general ressalvou, no entanto que, para evitar que este tipo de coisa aconteça é que “são tomadas medidas muito extremas, quando se estabelece, chamadas de regras de engajamento, onde cada militar sabe exatamente como deve se portar em situações eventuais para evitar, exatamente, atingir a população”.

Em sua fala, o comandante do Exército pregou ainda necessidade de total apoio do Poder Judiciário e do Ministério Público às ações a serem realizadas “para proporcionar condições para atingirmos o âmago do crime organizado”. Ele lembrou que, no caso de Nova Iorque, que também enfrentou problema de criminalidade, “a situação foi modificada pela ação da Justiça e não propriamente da polícia”. E afirmou: “é preciso da ajuda da estrutura do Judiciário e Ministério Público”.

O comandante do Exército aproveitou para responder as críticas às ações das Forças Armadas no Rio de Janeiro, citando que em todas as operações realizadas no estado nunca houve desrespeito aos direitos humanos.

Em seguida, convidou integrantes da Justiça, do Ministério Público e da imprensa a acompanharem as incursões na tropa no combate ao crime para verificarem, em loco, como a força age neste tipo de missão. “Eventuais preocupações que surjam em relação ao tratamento da população e respeito aos direitos humanos, damos muito boas vindas a todos os órgãos que quiserem acompanhar, imprensa também se quiser estar presente, para verificar nosso modus operandi consolidado em 13 anos no Haiti, assim como com ocupação da favela do Alemão, da Favela da Maré, com zero índice de efeitos colaterais e desrespeito aos direitos humanos e à população”, avisou.

O general Villas Bôas pediu também a cooperação da população no combate ao crime e defendeu que seja realizada “uma campanha de comunicação, para motivar a população” a ajudar nesse trabalho de vencer a violência porque acredita que este trabalho precisa do engajamento de toda a sociedade.

“Pedimos cooperação e apoio à população”, declarou ele, após ressaltar que há disposição do governo federal em ajudar com recursos financeiros, quando a necessidade deles for definida.

Em relação à integração dos diversos segmentos de apoio, o general disse que está havendo “ambiente de intensa cooperação” na realização dos trabalhos de segurança no Rio e que, neste momento, o interventor, general Walter Braga Netto, “vai entrar na fase de detalhar projetos, estabelecer metas e quantificar custos”.

Segundo o general, a intervenção no Rio é “administrativa e operacional”. Ressaltou, no entanto, que ela sozinha não resolve o problema. “Ela necessita também ser acompanhada de medidas estruturais do ponto de vista econômico e social, com capacidade de mudar a realidade da população que vive naquela comunidade”, explicou.

Questionado se nove meses são suficientes para se conseguir reverter a situação no Rio, o general reconheceu que “esse tempo é insuficiente para que se possa atingir com profundidade as causas que levaram a este estado de coisas”.

Para o general, “este é um trabalho que certamente necessitará de prosseguimento e agora, com o Ministério da Segurança Pública creio que se está promovendo condições estruturais para que isso aconteça”.

Segundo o comandante, neste momento, primeiro é preciso “melhorar a sensação de segurança da população, que está acuada, e para isso é necessária a presença da policia na rua”. Depois, prosseguiu, é preciso trabalhar com inteligência, integrada, para reagir ao crime organizado. “Vamos precisar de inteligência, reposta imediata, comando e controle, mobilidade e apoio dos órgãos do Judiciário”, repetiu.