Ao comentar o fato de o crescimento de 1% em 2017 haver ficado perto do piso das projeções de mercado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta quinta-feira, 1º de março, que o resultado ficou “exatamente” dentro das expectativas do governo. Ele reafirmou que, para este ano, a estimativa é de um crescimento de 3%. “Do nosso ponto de vista, é um dado positivo.”

Meirelles ressaltou o crescimento da taxa de investimento no último trimestre do ano passado. “Cresceu ‘forte’, 2% sobre o trimestre anterior”, disse. “É um indicativo grande de que as empresas já investem atendendo ao crescimento de 2018 previsto.”

Para o ministro, a recessão forte, “a maior da história do Brasil”, deixou uma grande capacidade ociosa nas empresas. Num primeiro momento, disse ele, as companhias usaram essa capacidade. Esgotada, passaram a investir. Por isso, na avaliação do ministro, os investimentos só reagiram no final do ano.

2018

Pela leitura de Meirelles, a recessão acabou e o crescimento está espalhado em todos os setores da economia. “Este crescimento foi de 1%, que é importante porque saímos de uma recessão, de uma queda de produto de 3,5% em 2016”, avaliou. “Para sair de -3,5% para + 1%, já é avanço grande e mostra que economia está acelerando.”

O resultado de 2017 indica que a economia iniciou 2018 em crescimento “sólido”, que dá base à expectativa de crescimento de 3% neste ano, disse o ministro.

“Se olharmos os diversos componentes, indústria, serviços e comércio, vemos tudo crescendo mais ou menos em paralelo”, ressaltou Meirelles. No início do ano, apenas a agricultura mostrava crescimento forte, mas a indústria ainda estava com fraco desempenho. Os números de agora mostram que a atividade se fortaleceu em todos os setores.

Consumo das famílias

O ministro destacou o crescimento do consumo das famílias e observou que o comportamento é semelhante para os investimentos das empresas. “Significa que as empresas e investidores estão com dados sólidos, apostando que Brasil vai crescer em 2018”, disse. “Estão investindo visando atender a esse crescimento.”

O consumo das famílias foi influenciado por fatores como a Black Friday, uma data que ganha importância no comércio brasileiro, e pela liberação dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Meirelles observou que a Black Friday dificulta a dessazonalização dos dados.

O crescimento no consumo de bens duráveis mostra uma maior confiança das famílias, observou o ministro. O mesmo estaria influenciando os investimentos das empresas.

Construção civil

Outro dado destacado pelo ministro foi o crescimento da construção civil. “Tinha começado, mas estava moderado, porque a construção civil, em toda a recessão, tinha acumulado estoque grande de imóveis”, comentou. “Demandou tempo para que fossem desovados, esgotasse os estoques para fazer lançamentos.”

O último trimestre mostrou atividade forte no setor. Segundo o secretário de Política Econômica, Fábio Kanczuk, esse era o último segmento que faltava para o crescimento ficar espalhado por toda a economia.

Copom

O ministro da Fazenda avaliou que o fraco crescimento do consumo no último trimestre do ano passado não deve influenciar a próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). “O Banco Central não reage e não pode reagir em função de dados pontuais. A queda no (ritmo de expansão) do consumo último trimestre de 2017 reflete eventos realizados no trimestre anterior como a Black Friday”, afirmou.

Segundo o ministro, os efeitos da Selic na atividade econômica se dão em vários meses à frente, e todas as projeções indicam para o retorno de um ritmo forte de expansão dos gastos das famílias ao longo de 2018. “A indicação de consumo forte à frente levou à sinalização pelo BC sobre fim dos cortes nos juros na próxima reunião do Copom”, lembrou.

Juros nos EUA

Questionado sobre o movimento de alta dos juros nos Estados Unidos, Meirelles confirmou que isso tem impacto na economia do mundo inteiro, mas disse que a subida da taxa pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) é necessária e não configura uma surpresa. “Se o Fed não subir a taxa de juros, pode haver superaquecimento e criação de bolhas. Eu estaria preocupado se o Fed decidisse não elevar os juros. O processo deve ser gradual, o risco era o Fed demorar demais a subir os juros”, completou.

Moody’s

A visita da agência de classificação de risco Moody’s foi classificada pelo ministro da Fazenda como algo “normal” após o rebaixamento feito por outra agência, a Standard & Poors. “As agências estão em posição de cautela”, reconheceu.

Segundo o ministro, elas colocaram três pontos de observação importantes para a classificação do Brasil. O primeiro era o Brasil voltar a crescer, o que já está ocorrendo.

O segundo ponto de cautela é a reforma da Previdência, colocada em suspenso por causa da intervenção federal no Rio de Janeiro. “Todos concordam que reforma da Previdência é fundamental e que, a longo prazo, a dívida pública brasileira e trajetória fiscal estão muito vinculadas à Previdência”, disse. “Não há dúvida que, se a reforma não for aprovada, teremos uma situação fiscal difícil nos anos subsequentes. Agências apontam isso, e é o que estamos dizendo.”

Outra questão colocada pelas agências, considerada “compreensível” pelo ministro, é o processo eleitoral. Elas querem saber qual será a política econômica a partir de 2019.