09/04/2018 - 17:12
A contaminação do solo e de águas na região de Barcarena, no Pará, se transformou em uma guerra de informações. Depois de reconhecer publicamente que sua fábrica de alumínio Hydro Alunorte, no Brasil, derramou água sem tratamento no Rio Pará, o maior da região, o grupo norueguês Norsk Hydro informou nesta segunda-feira, 9, que estudos contratados empresa “confirmam que não existe indicação de contaminação proveniente da Alunorte após chuvas” na região.
Ao divulgar resultados de estudos contratados junto à consultoria ambiental SGW Services, a empresa declarou que “os relatórios confirmam nossas declarações anteriores de que não houve transbordo das áreas dos depósitos de resíduos de bauxita”.
“Também não há qualquer indicação ou evidência de contaminação nas comunidades próximas da refinaria em consequência das fortes chuvas de fevereiro”, informou e diretor-executivo da empresa Svein Richard Brandtzaeg, por meio de nota.
É exatamente o contrário do que Brandtzaeg havia dito no dia 19 de março. Após negar diversas vezes a responsabilidade pelas contaminações, o executivo pediu desculpas pelo ocorrido. “Derramamos água de chuva e de superfície não tratada no Rio Pará. É totalmente inaceitável e rompe com o que a Hydro representa. Em nome da empresa, peço desculpas diretamente às comunidades, às autoridades e à sociedade”, disse, na ocasião.
Nesta segunda-feira, Brandtzaeg declarou que as principais conclusões da SGW Services são de que não houve transbordo das áreas de depósitos de resíduos de bauxita da Alunorte. Aponta ainda que “não há evidências de que a Alunorte contaminou as comunidades locais de Barcarena” e nem “indícios de qualquer impacto ambiental significativo ou duradouro nos rios próximos”.
A Hydro Alunorte é a maior produtora de alumínio do mundo, com 5,8 milhões de toneladas anuais de alumina. Extraída da bauxita, a alumina é a principal matéria-prima para a produção do alumínio.
Autoridades brasileiras afirmam que a empresa contaminou a água do município de Barcarena no norte do Pará, a 25 quilômetros de Belém, onde se situa a fábrica, por três dutos e canais clandestinos, com resíduos de bauxita que teriam transbordado do depósito da empresa depois de fortes chuvas nos dias 16 e 17 de fevereiro.
Os Ministérios Públicos do Pará e Federal uniram forças para investigar os crimes ambientais da Hydro e propor ações criminais e civis de reparação de danos ao meio ambiente e às pessoas. O governo brasileiro aplicou ao grupo norueguês, em fevereiro, duas multas de R$ 10 milhões cada uma. A primeira, por “atividades potencialmente contaminantes sem licença válida” e a segunda por “operar um duto de drenagem sem licença”. As informações divulgadas pela empresa não abordam o tema das ligações clandestinas.
O Instituto Evandro Chagas (IEC), órgão que faz parte do Ministério da Saúde e responsável pelos estudos que confirmaram as contaminações, rebateu as declarações da Hydro e sua contratada. “O que a empresa chama de ‘relatórios independentes’, na verdade são relatórios privados encomendados e pagos pela própria Hydro Alunorte, empresa em investigação”, declarou, por meio de nota.
Segundo o IEC, os relatórios apresentados até agora pela Hydro Alunorte não demonstram que os dados do IEC estão equivocados. “Os relatórios da empresa são ainda incompletos (não apresentam análises de metais, por exemplo) se comparados aos parâmetros analisados pelo IEC e exigidos pela regulamentação brasileira estabelecida pelo CONAMA. A crítica da empresa à atuação do IEC é formalista e desconsidera que a Hydro Alunorte reconheceu fazer despejo de efluentes em Barcarena sem qualquer tratamento”, informou.
Ao se referir ao seu processo de certificação pelo Inmetro, o IEC declarou que iniciou seu programa de certificação junto ao órgão em 2017 e que os parâmetros a serem certificados já seguem os procedimentos exigidos pela certificação do setor. “Não é razoável considerar que apenas as análises realizadas por laboratórios certificados pelo Inmetro ou órgãos equivalentes de outros países são válidas, pois se isso for verdade, grande parte da ciência brasileira e mundial deve ser considerada sem validade. Da mesma forma, se esse pensamento fosse correto, a referida certificação seria uma condição para funcionamento de todos os laboratórios no Brasil e no mundo. A tentativa de desqualificar a ciência produzida pelo IEC é também a tentativa de desqualificar a ciência brasileira.”
O instituto afirmou ainda que hoje nenhuma empresa conseguirá fazer as análises dos impactos ocorridos nos dias 17 e 18 de fevereiro nas águas de Barcarena, porque a dinâmica hidrográfica e pluvial na região é intensa e o cenário está em constante modificação. “Desconsiderar as análises realizadas pelo Instituto Evandro Chagas é desconsiderar o que aconteceu em Barcarena e seus impactos na saúde ambiental e da população”, declarou o IEC.