10/04/2018 - 14:41
A alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que subiu apenas 0,09%, a menor variação para o mês desde 1994, corrobora o plano de voo traçado pelo Banco Central de cortar novamente a taxa básica de juros, a Selic, no mês que vem. A avaliação é do economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita.
“A inflação está em patamar benigno, em torno de 3% e a alimentação continua surpreendendo favoravelmente”, disse o economista a jornalistas após o evento Itaú Macro Vision na terça-feira, 10, em São Paulo. Ao mesmo tempo, o câmbio tem sido uma fonte de pressão e na segunda-feira, 9, o dólar ultrapassou o patamar de R$ 3,40. Mesquita, porém, não vê este patamar como preocupante para a inflação. “O câmbio vinha ajudando e agora vai ajudar menos”, disse ele, ressaltando que pelo fato de o Brasil ser uma economia muito fechada, o real precisaria se depreciar muito mais, com o dólar batendo os R$ 3,70 ou mais, para a trajetória de inflação piorar substancialmente.
Caso o câmbio continue piorando, pode levar a revisão para cima projeções de inflação, disse ele, minimizando esta possibilidade no momento. “Com o IPCA surpreendendo para baixo um pouco, isso limita ou posterga essas mudanças.” O banco não planeja por enquanto mudar suas projeções para o IPCA. “O número desta terça-feira veio bom, mas em um contexto de depreciação cambial.”
Mesquita espera novo corte da Selic na reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom). Se o IPCA de março tivesse surpreendido para cima, neste atual momento de alta do dólar, o economista acredita que o mercado começaria a questionar se haveria mesmo nova redução da Selic, mas após o IPCA divulgado nesta terça, o corte ficou mais provável.
O Itaú projeta que a taxa de câmbio vai fechar o ano em R$ 3,25. Passada qualquer incerteza maior sobre a continuidade da política econômica, a taxa deve oscilar menos. Mesquita avalia que o ambiente externo tem contribuído para a valorização do dólar, mas de um tempo para cá o real passou a sofrer um pouco mais de pressão que as moedas de outras economias emergentes, influenciado pela elevada incerteza eleitoral.
Para 2019, a inflação deve ser maior, afetada por fatores como o fim dos efeitos benignos do choque de alimentos e uma menor ociosidade na economia. Mesquita, porém, descarta uma maior pressão inflacionária no curto prazo, por conta da ainda elevada capacidade ociosa após dois anos de forte recessão.
Crédito
A demanda por crédito está crescendo lentamente mais consistentemente, afirmou o presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, em conversa com jornalistas no mesmo evento.
A exceção, conforme ele, são as grandes empresas, sendo que uma parte dessa demora na retomada deve-se ao fato de elas terem encontrado espaço para captar no mercado de capitais.