29/04/2018 - 9:00
A possibilidade da abertura de vagas de emprego na região do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) tem movimentado em Itaboraí, na região metropolitana do Rio. A cidade foi uma das mais afetadas com a paralisação do Comperj e que, desde então, busca se reerguer.
As vagas devem surgir com a retomada das obras da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), que retira o gás processado por meio de gasoduto e leva para a malha do Comperj. O GLP também vai sair por meio de outro duto, que junto com a unidade, faz parte do projeto integrado Rota 3, chamado Dutos Norte, que já está em execução.
A estimativa que sejam gerados 5 mil empregos diretos, número previsto pela Petrobras. No entanto, as vagas não serão criadas pela companhia, mas por empresas envolvidas na construção e no fornecimento de serviços necessários para a obra, paralisada desde 2015.
“Vamos ter inúmeros contratos que são os pequenos contratos que vão viabilizar, por exemplo, fornecimento de energia para a UPGN, fornecimento de água a vapor, tem toda a parte de infraestrutura, a parte de serviços, arruamento. O que a gente acredita é que todos esses contratos juntos, no pico de obra, vai ter uma faixa de 5 mil empregos diretos. É uma estimativa. Este número vai ser confirmado um dia pelas contratadas.”, disse o gerente de implantação do Projeto UPGN – Rota 3, Frederico Doher, em entrevista à Agência Brasil.
A obra será tocada pela empresa chinesa Shandong Kerui Petroleum e pela brasileira Método Potencial, por meio de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), criada para completar a construção do projeto que foi interrompido, segundo Doher com 30% do espaço físico concluídos. O contrato tem o valor de aproximadamente R$ 1,95 bilhão.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas Empresas de Montagem e Manutenção Industrial do Município de Itaboraí (Sintramon), Paulo César Quintanilha, a perda de empregos com a paralisação das obras no Comperj foi imensa para o município.
Embora reconheça que a retomada da UPGN seja positiva, são necessárias mais de 5 mil vagas diretas para suprir a demanda. “Para dentro do estado do Rio de Janeiro não é suficiente para a demanda dos desempregados que temos aqui. O baque foi muito forte. Para a gente hoje tirar um pouco desse pessoal desempregado, era necessário 10 mil vagas de empregos”.
Quintanilha lembrou que, no auge das obras no Comperj, as empresas chegaram a contratar 32 mil trabalhadores. “A retomada é positiva, mas o topo da obra só vai acontecer de julho em diante, o topo das contratações”, disse, acrescentando que os profissionais de construção civil devem ser os primeiros contratados.
Frederico Doher destacou que o pessoal a ser empregado já passou por uma capacitação da Petrobras, quando as obras ainda estavam em andamento. “Naquela época, o mercado estava muito aquecido, a Petrobras capacitou muita mão de obra naquela região, então, a gente acredita que até por questão de custos e logística, a mão de obra que venha a ser apropriada nessas obras, seja uma mão de obra da região, principalmente, de Itaboraí. Isso é um ponto positivo”.
UPGN
A unidade, com previsão de início de operação no segundo semestre de 2020, vai servir ao escoamento da produção de gás natural de campos do pré-sal da Bacia de Santos. Após a paralisação do projeto em 2015, muita gente ficou sem emprego e os planos para os municípios da região foram deixados de lado. A professora e pesquisadora da Fundação Getulio Vargas Energia (FGV Energia), Fernanda Delgado, lembra que a criação do Comperj atraiu tantos investimentos que inclusive chegou a ser convidada para lecionar em uma universidade que seria instalada em Itaboraí.
“É todo um ecossistema que é criado em torno e que faliu e não foi para frente. Quando não vai para a frente não é só aquela expectativa desse ecossistema que é frustrada. É também uma obra que fica parada perdendo valor e se deteriorando”.
Meio ambiente
Na visão da pesquisadora, a retomada das obras além de movimentar a economia da região vai aumentar a produção de gás natural, produto que tem menor impacto no meio ambiente. “Quando tem a retomada, ela é boa em três aspectos. Boa porque bota uma obra para funcionar, para de perder dinheiro, porque uma obra parada está perdendo dinheiro. Ganha na geração de empregos diretos e indiretos nesse ecossistema que vai ser desenvolvido ali e tem o uso de um combustível menos poluente”, disse.
Segundo Fernanda Delgado, o uso de gás natural tem sido considerado um combustível de transição, pois emite menos poluentes, em muitos países. “Para cumprir metas do Acordo de Paris, os países estão migrando bastante para o gás natural, mudando as suas fábricas e mudando as suas termelétricas a carvão para queimar gás natural e ter redução da emissão. O gás natural tem sido fomentado no mundo inteiro já há alguns anos, justamente nessa pegada de ser um combustível de transição”, contou.
Produção
A retirada do gás natural na área do pré-sal vai permitir alta na produção de petróleo, que conforme a pesquisadora, está atrelada a uma capa de gás, que precisa ser produzida para dar acesso ao óleo que está embaixo. “Como preciso do produto final que é o óleo, é necessário tirar esse gás da frente e ter um retorno econômico com ele de alguma forma”.
Rota 3
De acordo com Frederico Doher, Rota 3 terá capacidade de processar 21 milhões de metros cúbicos (m³) por dia. Somada às Rotas 1 e 2, que também pertencem ao Comperj e já estão em operação, a Petrobras vai processar 44 milhões m³ de gás por dia.
“Vai ser a maior planta de gás da Petrobras [Rota 3]. É um projeto desafiador para gente justamente por causa da importância dele e é uma retomada. O que motiva muito a gente é que depois de um período tumultuado dentro da Petrobras a gente está começando a retomar os investimentos., disse.
Licitação
Além da UPGN, o Rota 3 inclui a construção de um gasoduto com aproximadamente 355 km de extensão total, sendo 307 km de trecho marítimo, já construídos, e 48 km de trecho terrestre, em fase de licitação, que escoará o gás natural do Polo Pré-Sal da Bacia de Santos até a UPGN. O contrato do trecho terrestre deve ser assinado no segundo semestre deste ano, de acordo com Doher.
Refino
Quanto à área de refino do Comperj, o gerente afirmou que o Trem 1 vai continuar preservado, aguardando uma futura parceira que esteja interessada em concluir essa parte. Ainda não há previsão de quando serão retomadas as obras, que têm em torno de 60% de espaço físico prontos.