24/06/2018 - 8:01
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) patrocina, desde o ano passado, uma série de atividades para preparar os pré-candidatos ligados à instituição para a campanha eleitoral – como equipe de marketing, evento de lançamento de candidaturas e até treinamento para se relacionar com a imprensa. O objetivo da associação é aumentar a bancada pró-Lava Jato no Congresso.
Em 22 de maio, um grande evento foi realizado em Brasília para lançar a “frente da Lava Jato”, formada por cerca de 30 agentes da Polícia Federal que disputarão a eleição. A cerimônia ocorreu na sede da Associação dos Magistrados do Distrito Federal, com direito a coquetel que incluía champanhe, cerveja, camarão empanado e queijo coalho com melaço.
Antes do lançamento oficial, um trabalho nos bastidores foi realizado. Pelo menos desde novembro do ano passado, os policiais-candidatos vêm recebendo orientação de uma empresa especializada em marketing político, formada por publicitários que já atuaram em campanhas no Brasil e no exterior. A Fenapef também contratou pesquisas para conhecer melhor o perfil do eleitor e traçar estratégias. Constatou, por exemplo, que somente 30% dos brasileiros são favoráveis ao porte de arma e aconselhou os pré-candidatos a evitar fotos ostentando pistolas e revólveres.
No site lançado para divulgar a frente há um pequeno perfil de cada pré-candidato e um vídeo curto, no estilo de propaganda eleitoral, no qual os agentes se apresentam e falam de suas propostas. Sem poder utilizar o logotipo da PF, a frente adotou as cores amarela e preta e uma mensagem: “Segurança sim. Corrupção não”.
Segundo o presidente da Fenapef, Luís Antônio de Araújo Boudens, a ideia de formar uma frente dos agentes da Polícia Federal para disputar as eleições se consolidou em 2016, depois da disputa municipal. A corporação elegeu 24 nomes, entre prefeitos e vereadores. Agora, pretende repetir o sucesso e aumentar a bancada dos agentes da PF no Congresso, que hoje possui dois deputados.
Legislação
Segundo especialistas em direito eleitoral ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, não há definição na legislação eleitoral sobre o que uma entidade pode ou não fazer por seus associados durante a pré-campanha. Pessoas jurídicas não podem financiar candidatos, mas não há impedimento legal para que uma associação prepare ou dê treinamento para seus integrantes.
Mesmo assim, há dúvidas se a atuação da Fenapef não extrapolou essa possibilidade. “É claro que uma associação, às vésperas das eleições, preparando seus integrantes para a campanha, pode estar numa linha tênue entre o que é financiamento e o que não é”, afirmou Diego Rais, professor de direito eleitoral do Mackenzie.
Em nota, a Fenapef confirmou que investiu na “prestação de serviços de comunicação e marketing, como produção de peças digitais, realização de pesquisa, bem como análise e criação de estratégias de comunicação” aos pré-candidatos para que “o projeto de renovação política chegue ao conhecimento da sociedade”.
Questionada sobre valores gastos nas atividades, a federação não falou em cifras e disse apenas que “seus gastos ficam sujeitos à análise do conselho fiscal da Fenapef, composto por policiais federais e seus filiados”. A entidade também afirmou que, conforme determina a legislação, não atuará durante o período eleitoral.
Famosos
Nomes que ganharam notoriedade em operações desistiram de disputar as eleições de 2018. Newton Ishii, o “japonês da Federal”, e Lucas Valença, o “hipster da Federal”, tornaram-se conhecidos por conduzir condenados da Lava Jato e chegaram a ensaiar a entrada para a política, mas não devem se candidatar.
“Eu acho que esse negócio de política não é pra mim”, disse Valença, que chamou atenção durante a prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), em outubro de 2016. Com coque e uma longa barba, o agente causou frisson nas redes sociais, onde ganhou o apelido de “lenhador”.
Depois da fama repentina, Valença se filiou ao Novo e cogitou concorrer a uma vaga na Câmara. Hoje, no entanto, afirmou que não colocará o plano em ação, mas não descartou uma candidatura no futuro. “Não fecho as portas para nenhuma opção”, disse.
O “japonês da Federal” também tem dito que não vai concorrer nestas eleições. Filiado ao Patriota, ele foi condenado por facilitação de contrabando na fronteira entre Brasil e Paraguai e chegou a ficar detido por quatro meses em 2003. Caso decidisse se candidatar, poderia ser impugnado com base na Lei da Ficha Limpa.
Candidatos
Outras categorias ligadas à corporação, como delegados e peritos, devem apresentar nomes na disputa. Segundo a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, 14 delegados devem ser candidatos a cargos no Legislativo e Executivo. Em abril, a entidade realizou workshop com especialistas em direito eleitoral e profissionais da área de comunicação, que falaram sobre legislação e assuntos como fake news.
A entidade, no entanto, disse que esse foi o único envolvimento no processo eleitoral, e que não investiu recursos para produção de material publicitário ou na contratação de profissionais para campanhas políticas.
No caso dos peritos, cinco representantes da categoria devem ser candidatos, mas a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais afirmou que não realizou nem financiou eventos sobre a eleição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.