07/07/2018 - 11:10
A sequência de seis arquivamentos de inquéritos por ministros do Supremo Tribunal Federal em um período de um mês deixou em alerta procuradores e delegados da Polícia Federal que atuam na Operação Lava Jato. Os reveses, para representantes da PF e do Ministério Público Federal, significam um obstáculo às investigações – que chegam a uma fase decisiva na Corte – e põem em xeque o potencial da delação da Odebrecht.
Ministros apontaram excesso de prazo e falta de provas para arquivar os seis inquéritos. Em cinco deles, a Procuradoria-Geral da República havia pedido o envio das investigações para a primeira instância, com base na decisão do próprio Supremo que limitou o foro privilegiado. Em outro foi negado um pedido de prorrogação de prazo.
As decisões foram recebidas com contrariedade na Procuradoria. Nenhum dos arquivamentos foi solicitado pelo órgão, o que não é usual no Supremo. O mais comum é o arquivamento após pedido dos próprios procuradores.
Nos bastidores da PF, os episódios reforçam o receio de que o acordo de delação da Odebrecht, fechado em dezembro de 2016 pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tenha falhas que comprometam o avanço de uma parcela das investigações da Lava Jato.
Três dos inquéritos arquivados tinham como pendência a perícia nos sistemas de comunicação e contabilidade da empresa – Drousys e MyWebDay -, fator que foi minimizado pelos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli ao decidir pôr fim ao procedimento de apuração.
Segunda Turma
Embora investigadores não vejam as decisões como uma ameaça à continuidade da operação, aos arquivamentos se somam derrotas recentes sofridas na Segunda Turma da Corte, formada em sua maioria por ministros críticos aos métodos da Lava Jato.
Na semana passada, Gilmar, Toffoli e Ricardo Lewandowski impuseram cinco derrotas ao relator da operação na Corte, Edson Fachin, libertando dois condenados na Lava Jato (José Dirceu e João Cláudio Genu) e anulando provas obtidas em busca e apreensão no apartamento funcional da senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Na Corte, há expectativa de mais arquivamentos no segundo semestre. A Procuradoria, por sua vez, tenta reverter o encerramento de dois inquéritos que tinham como investigados os senadores Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM). A PGR afirmou, em nota, que procuradores da equipe estão analisando os demais casos.
Além de Gilmar e Toffoli, os arquivamentos partiram de Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que integram a Primeira Turma do Supremo.
Ontem, em Londres, Gilmar voltou a fazer críticas aos métodos da Lava Jato e afirmou que houve um momento de “canonização” da operação no País, em que qualquer questionamento a ela era considerado “antirrepublicano”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.