09/07/2018 - 8:21
Os ideais dos combatentes de 1932 continuam vivos, apesar da derrota dos paulistas no campo de batalha. Foi um movimento espontâneo, uma luta de voluntários que se mobilizaram para derrubar o ditador Getúlio Vargas, e não uma conspiração da elite, como pretendia provar a propaganda oficial.
“As trincheiras de 1932 foram a pia batismal da democracia”, afirma o poeta Paulo Bomfim, de 92 anos, ao avaliar o legado da Revolução Constitucionalista. Ele tinha 6 anos de idade e acompanhou a guerra dos paulistas como escoteiro, em uma equipe coordenada pelo escritor Mário de Andrade.
O cientista político Bolívar Lamounier atribui ao movimento constitucionalista de São Paulo o sucesso da luta pela democratização do Brasil. “Demonizam 1932, mas é preciso lembrar que, sem a Revolução, não teríamos a Constituição de 1934”, observa Lamounier. “Foi uma conquista, apesar do autogolpe de 1937”, quando Getúlio instituiu o Estado Novo. O Manifesto dos Mineiros, que exigia a deposição do ditador em outubro de 1943, certamente se inspirou nos ideais de 1932.
Na mesma linha, o jornalista e historiador Luiz Octavio de Lima, autor do recém-lançado livro 1932 – São Paulo em Chamas, considera a Revolução Constitucionalista um movimento nacional, e não só paulista, pois teve apoio de grupos dissidentes de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Minas, Pernambuco, Amazonas e Rio. “Existia um papo separatista radical em 1932, mas logo desapareceu”, diz. “O Brasil tem de se lembrar hoje do passado, quando Getúlio impôs censura à imprensa, perseguiu os adversários e tolerou a ação de milícias que agiam à margem da lei.”
Lima salienta a participação voluntária de jovens e adolescentes que insistiram em se alistar para defender São Paulo contra a ditadura, sem terem ligação com grupos ou partidos políticos. “Todas as classes participaram da mobilização, não foi só a elite.” Os primeiros paulistas a morrer foram os jovens que deram as iniciais de seus nomes à sigla MMDC: Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo. Eles morreram em consequência de um tiroteio entre manifestantes constitucionalistas e partidários do governo federal, em 23 de maio de 1932.
São Paulo achou então que a luta armada era a única saída para derrubar Getúlio Vargas. Entre os líderes civis da Revolução estavam Armando de Salles Oliveira, Julio de Mesquita Filho e Paulo Nogueira Filho. A revolução deveria ser iniciada no dia 14 de julho, mas foi antecipada para o dia 9, por causa do risco de traição entre conspiradores.
Anistia
Presos após a derrota, os principais líderes foram deportados para Portugal. Eram 48 oficiais do Exército, 3 oficiais da Força Pública e 53 civis, entre os quais Julio de Mesquita Filho e seu irmão Francisco Mesquita, Armando de Salles Oliveira, Paulo Nogueira Filho, Pedro de Toledo, Antônio Mendonça e Guilherme de Almeida. Voltaram em 1933, com a anistia decretada por Getúlio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.