Paciência, Toninha.? Todas as semanas, a mãe do homem mais poderoso da economia brasileira escuta as mesmas palavras do filho. Aos 63 anos, Antônia de Castro Palocci, conhecida em Ribeirão Preto como Dona Toninha, é uma mulher ansiosa para ver o tão esperado espetáculo do crescimento. E, desde que seu filho Antônio virou ministro da Fazenda, ela se tornou uma devoradora dos cadernos de economia dos jornais. Lê tudo, de cabo a rabo, e acrescenta à leitura sua experiência de mulher que luta diariamente para fechar as contas da casa. O resultado disso é a agenda econômica de Dona Toninha, que nem sempre coincide com a do filho ilustre. Um exemplo? O salário mínimo, cujo valor de R$ 260 foi definido pelo ministro Antônio Palocci. ?É uma miséria, muito pouco para se viver?, disse Dona Toninha à DINHEIRO. ?Sei porque sou dona de casa.? E qual o valor justo? Toninha se esquiva da resposta. Não quer criar uma saia justa com o filho.

 

Pouco a pouco, à medida que a conversa avança, Dona Toninha revela traços de personalidade que foram herdados pelo filho. Com uma renda mensal de 2 mil reais por mês, fruto de uma pensão deixada pelo marido, Toninha é uma adepta fervorosa do superávit primário. ?Nunca fiquei no vermelho, nunca caí no cheque especial?, diz Toninha, sem disfarçar o orgulho. Afinal, ela sabe como são altos os juros no Brasil. E sempre que falta algum dinheiro no orçamento doméstico ela não recorre aos bancos. Parcela as compras, em três ou cinco vezes sem juros, ou pede ajuda a um dos quatro filhos ? os irmãos do ministro são o médico Pedro, o engenheiro Orlando e o funcionário público Adhemar. Um deles paga o plano de saúde. Outro cobre o seguro do Gol 1.0. ?Mas se eu tivesse de pagar aluguel, as coisas seriam bem mais difíceis?, admite Toninha. Há 27 anos, ela mora num bairro de classe média e na mesma casa, que já passou por quatro reformas.

Dona Toninha também tem sonhos. Um deles é entrar no bisturi e fazer uma operação plástica. Outro é conhecer a Itália. Mas com esse dólar, acima de três reais, ainda não dá. ?O dólar está muito caro e eu só vou quando abaixar?, afirmou. Ouviram bem, exportadores? Na agenda da mãe do ministro, que fala com o filho pelo menos uma vez por semana, não há espaço para novas desvalorizações do real. Nessas conversas, são comuns as cobranças. Para Toninha, a inflação ainda não está definitivamente vencida. ?No supermercado, eu vejo que os preços continuam subindo?, garante. ?Os empresários são gananciosos.? Além disso, os impostos são muito altos. E isso ela observa na prática, com os empregos migrando de Ribeirão Preto para cidades vizinhas, como Cravinhos e Orlândia, onde os tributos são menores. ?É a guerra fiscal, que um dia tem de acabar?, reclama. Mas ela não poupa os grandes empresários que sonegam e são os maiores devedores da Prefeitura. ?Pobre paga tudo direitinho; os ricos e alguns usineiros, não?.

Ribeirão Preto, uma cidade que ficou conhecida como Califórnia brasileira, tem perdido alguns empregos mas ainda preserva uma renda per capita de US$ 9 mil, uma das mais altas do País. O desemprego, por enquanto, não atingiu a família de Dona Toninha. Todos os seus filhos estão empregados e muito bem de vida. Um dos netos, André, faz até pós-graduação em economia numa universidade americana. Tem o perfil típico para se integrar a alguma equipe econômica, quem sabe a do próprio filho. Toninha, no entanto, não é indiferente ao problema do desemprego e da falta de crescimento no resto do País, que atrai mensalmente duas mil famílias para Ribeirão. Como não há vagas para todos, Toninha diz que o número de favelas triplicou na cidade nos últimos anos. ?Se todos tivessem um trabalho, não precisaríamos gastar dinheiro com programas sociais como Bolsa Escola e Renda Mínima?, afirma. Apesar da distância, ela pensa tal e qual o maior empresário
do País, Antônio Ermírio de Moraes, que diz que o Brasil não precisa de Fome
Zero ? e sim de Desemprego Zero.

Mas será que Dona Toninha tem apenas críticas em relação à economia? Ao contrário. Ela é uma autêntica mãe coruja. Repete o mesmo discurso do filho, apontando que o risco Brasil caiu de 2,4 mil pontos para 700 pontos. ?Temos que
ter calma, pois a direita ficou oito anos no poder e não fez nada?, afirma. Parafraseando o presidente Lula, ela costuma dizer que o Brasil é como uma casa que ainda precisa ser colocada em ordem. É, pelo que se vê, Dona Toninha, a ex-costureira que hoje lidera vários trabalhos comunitários em Ribeirão, coordena o orçamento participativo da cidade e é até cogitada para ser vice-prefeita na
chapa do PT, aprendeu com o filho a ter paciência.