O executivo Franklin Feder, 63 anos, americano naturalizado brasileiro, que ocupou desde dezembro de 2004 a presidência da Alcoa no País, pendurou as chuteiras no mês passado. Antes de anunciar sua aposentadoria, o executivo havia se destacado por encampar, em meados de 2012, um movimento nacional pela redução do custo da energia elétrica. Após várias reuniões a portas fechadas com a presidenta Dilma Rousseff, nas quais conseguiu provar que o preço da eletricidade inviabilizaria uma parte importante da indústria nacional, inclusive a Alcoa, o governo anunciou a redução de até 28% nas tarifas para as empresas. 

 

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A vitória do executivo, comemorada como uma conquista de Copa do Mundo, chegou a trazer alento a uma gigante que tem na energia cerca de 40% dos seus custos. Mas a euforia durou pouco. Na terça-feira 8, a divulgação do balanço mundial da companhia expôs a complexa situação da Alcoa no País, agora sob o comando do substituto de Feder, o CEO Aquilino Paolucci. A empresa se vê, novamente, afetada pela nefasta combinação da alta dos custos da energia com a queda da cotação do alumínio no mercado internacional. Embora não revele o peso do Brasil nos resultados globais, sabe-se que o País, com suas seis fábricas, respondeu por boa parte dos US$ 178 milhões das perdas no primeiro trimestre deste ano – no mesmo período do ano passado, houve lucro de US$ 149 milhões. 

 

A razão para essa reviravolta se explica pela disparada dos custos por aqui. O preço do megawatt/hora (MW/h) negociado no mercado livre saltou de R$ 50, em 2012, para mais de R$ 800 neste ano. Ao mesmo tempo, a cotação do alumínio no mercado internacional recuou de US$ 2.083, a tonelada, para US$ 1.704. Em julho de 2008, o metal valia quase US$ 3.100. Não por acaso, na fábrica de Poços de Caldas (MG), a mais antiga unidade da subsidiária, com quase 50 anos de operações, proliferaram rumores de demissão em massa. A divisão de alumínio primário, base para a produção de chapas, será interrompida – temporariamente, a partir de maio. 

 

“Sabemos como essa decisão afeta nossos funcionários, prestadores de serviços e as nossas comunidades”, afirmou Paolucci, em nota, após anunciar o enxugamento dos negócios. “Apesar do trabalho duro realizado pelo time, fomos forçados a tomar medidas difíceis em relação à nossa produção no Brasil, em função das condições de mercado que enfrentamos.” Pelos cálculos do Sindicado dos Metalúrgicos local, os cortes chegariam a 400 funcionários diretos, podendo afetar o emprego de cerca de 1,5 mil trabalhadores, incluindo fornecedores e terceirizados. A unidade de Poços de Caldas mantém atualmente mil empregados diretos na linha de alumínio. 

 

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Metal em queda: a cotação do alumínio no mercado internacional

caiu quase pela metade entre 2008 e 2014

 

“A liderança da companhia está trabalhando ativamente para encontrar alternativas de redução no número de empregos a serem impactados, seja na própria fábrica de Poços de Caldas, seja nas outras operações da Alcoa e em outras empresas da região”, informou a Alcoa, por meio de nota. As dispensas, na opinião do presidente do sindicato local, Ademir Angelino, sinalizam problemas maiores no horizonte. “Isso é somente a ponta do iceberg”, diz o sindicalista. “No longo prazo, se os custos continuarem nesse patamar, essa unidade corre o risco de ser fechada.” 

 

A Alcoa, a julgar pela dramática situação da indústria do alumínio, poderá ser mais uma vítima do alto custo brasileiro de produção. Para o coordenador da comissão de economia e estatística da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Luis Carlos Loureiro Filho, o episódio revela a existência, em marcha, de um processo de desindustrialização no País. Isso porque países com energia mais barata, como Rússia, China e os do Oriente Médio, estão se consolidando com alternativas a empresas que buscam custos mais adequados. 

 

“O custo no Brasil não deixa as empresas serem competitivas”, afirma Loureiro Filho. “No Oriente Médio e na Rússia, as despesas não chegam a US$ 30 por MW/h, enquanto passamos de R$ 800.” De acordo com a Abal, o País deverá reduzir em 10% sua produção do metal primário neste ano. Além dos custos em alta e da receita em baixa, a concorrência chinesa tem se mostrado um pesadelo para fabricantes como a Alcoa. A China responde por 43% da produção mundial e vem investindo na ampliação da capacidade. “Se a China exportar 10% do que produz, inundará o mercado e derrubará ainda mais os preços”, diz o economista Bruno Resende, da Tendências Consultoria.

 

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