05/10/2013 - 7:00
Nas últimas três décadas, o engenheiro químico Paulo Cunha, um discreto carioca de 73 anos, avesso a entrevistas e aparições públicas, se transformou em uma espécie de alquimista no meio empresarial brasileiro. O executivo ganhou notoriedade por misturar atividades aparentemente distintas para criar um novo modelo de negócio. Na presidência executiva do Grupo Ultra, entre 1981 e 2007, colocou sob o mesmo guarda-chuva uma empresa de insumos químicos, a Oxiteno, uma rede de postos de combustíveis, a rede Ipiranga, uma distribuidora de botijão de gás, a Ultragaz, e uma transportadora, a Ultracargo.
Paulo cunha, presidente do conselho:
“A nossa entrada ajudará a formalizar ainda mais o setor,
que está se alinhando de forma muito rápida”
Graças a essa fórmula, o Ultra é hoje o maior conglomerado privado do setor petroquímico do País e ocupa a segunda posição no ranking de combustíveis e a liderança em gás de cozinha – em ambos os segmentos, a participação de mercado é próxima a 25%. Com os postos Ipiranga, Cunha disseminou o conceito de lojas de conveniência e incentivou o modelo que batizou de “unificação do varejo diversificado”. As unidades da bandeira AmPm vendem desde pão francês até cosméticos. Desde 2007, o executivo não cumpre a rotina de CEO, mas mantém-se na presidência do conselho de administração como o cérebro das estratégias da companhia, que faturou R$ 54 bilhões no ano passado.
Na terça-feira 1º, o Grupo Ultra concluiu uma nova operação elaborada por Cunha: misturou combustível com remédios. Em um negócio de R$ 1 bilhão, adquiriu o controle da paraense Extrafarma, a oitava maior cadeia de drogarias do País, com 186 lojas no Pará, Amapá, Maranhão, Ceará e Piauí. Pelo acordo, o Ultra passa a deter 100% das ações da Imifarma, dona da Extrafarma, enquanto a família Lazera, antiga dona da rede sediada em Belém, receberá 2,9% das ações da gigante petroquímica. “A nossa entrada ajudará a formalizar ainda mais o setor (de farmácias)”, disse Cunha, durante o anúncio da nova operação. “Este é um setor que está se alinhando com o vento, de forma muito rápida”, acrescentou o executivo, ao se referir ao intenso processo de consolidação do varejo farmacêutico.
Thilo Mannhardt, presidente do grupo ultra:
“Com a Extrafarma, queremos ser líderes no crescimento do segmento farmacêutico”
Desde 2011, houve importantes fusões, como a da Droga Raia com a Drogasil, e a da Drogaria São Paulo
com a Pacheco. A estreia do Grupo Ultra em sua quinta área de atuação, sob a ótica dos negócios, faz todo o sentido. Ao adquirir uma rede de drogarias, o Grupo Ultra poderá levar unidades da Extrafarma, que prevê faturar R$ 1 bilhão neste ano, para dentro de seus 6,5 mil postos de combustíveis e dos quatro mil pontos de venda da Ultragaz. “Fazia algum tempo que discutíamos a opção de ter uma rede de drogarias como parte de uma estratégia de ampliar nossa aproximação com o consumidor”, disse Thilo Mannhardt, CEO do Ultra. “Com a Extrafarma, nossa ambição é ser u m dos líderes no crescimento do segmento farmacêutico e ampliar as vendas nos postos”, afirmou.
Segundo Mannhardt, além de representar uma nova área de negócios para o grupo, a incorporação da Extrafarma terá como efeito colateral um aumento das vendas de combustíveis, ao ampliar o fluxo de consumidores nos postos Ipiranga. A experiência mostra, de acordo com ele, que cada loja da AmPm aumenta em 18%, em média, o movimento nos postos. “Um negócio puxa o outro”, disse. A operação ainda depende da aprovação das assembleias de acionistas das duas empresas e da autorização de órgãos como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que deve ocorrer no início de 2014. A Extrafarma, uma empresa familiar com 16 anos de existência, continuará sob a gestão de Paulo Lazera, um dos sete irmãos sócios da rede.