Mesas comunitárias, espaços abarrotados de pessoas, barulho, fast-food… O requinte costuma passar longe quando o assunto é praça de alimentação. Costumava. Nos últimos tempos, os apreciadores da boa culinária – avessos a esses ingredientes indigestos – impulsionam um movimento recente nos shoppings do País: a instalação da alta gastronomia nos centros de compras. É claro que os espaços em questão são os empreendimentos de luxo que se destacam nas grandes metrópoles do País. Lugares como o JK Iguatemi e o Iguatemi, ambos em São Paulo, ou o Barrashopping, no Rio de Janeiro, e o ParkShopping , em Brasília, oferecem opções gastronômicas para satisfazer o público de paladar mais exigente. 

 

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Cid Simão, da Tre Bicchieri: o segredo do negócio é instalar o novo restaurante em shoppings

que já são frequentados por seus clientes

 

Investimentos de porte, como os R$ 5 milhões aplicados na construção da nova unidade do italiano Tre Bicchieri balizam essa tendência de mercado. O restaurante, famoso na região dos Jardins, na capital paulista, abriu as portas em meados de outubro no JK Iguatemi sob o nome Tre e já na primeira semana funcionava quase que com capacidade máxima, de 130 pessoas. Entre seus frequentadores, estão homens e mulheres de negócios que aproveitam a localização privilegiada do shopping – nos arredores da movimentada avenida Faria Lima – para apreciar um prato preparado por um autêntico chef. 

 

Segundo o empresário Cid Simão, um dos sócios do local, foi necessário fazer algumas adaptações em relação à matriz, já que o restaurante fica localizado dentro de um shopping. “O cardápio, por exemplo, teve de ser modificado e ficou um pouco mais leve na unidade do JK Iguatemi”, afirma. “Até porque o tempo de permanência dos clientes é menor aqui.” Ainda assim alguns clássicos, como o leitão dourado com feijão branco glaceado (R$ 72), permaneceram no menu do restaurante. Não foi à toa que, depois de dois anos de existência no bairro dos Jardins, os proprietários do Tre Bicchieri escolheram o JK Iguatemi para sua primeira expansão. 

 

“É uma boa localização para nós porque o público consumidor do shopping tem o mesmo perfil dos frequentadores do nosso restaurante”, diz. Outros nomes da gastronomia paulistana também escolheram os shoppings de luxo para instalar sua primeira filial. É o caso do tradicional Rodeio, localizado na rua Haddock Lobo, na capital paulista, há mais de 50 anos, e que desde o ano passado também tem unidade do restaurante no Shopping Iguatemi. Silvia Levorin, sócia-proprietária do local, conta que sua preocupação era fazer um restaurante com a mesma aura da matriz. Por isso, não economizou para montar a filial, que ocupa uma área de 850 metros quadrados e exigiu investimentos de R$ 5 milhões. “As pessoas costumam dizer que nem se lembram que estão dentro de um shopping”, diz Silvia. 

 

Entre seus frequentadores – e admiradores da famosa picanha fatiada acompanhada de arroz biro-biro e palmito de pupunha assado (R$ 263,50 para duas pessoas) – estão o ex-jogador de futebol Ronaldo Fenômeno e o lutador Anderson Silva. Ainda no Iguatemi, está localizada a boutique-restaurante Petrossian, tradicional marca francesa de caviar, que durante os almoços serve pratos requintados. “A gente percebe que os almoços também movimentam as compras na loja”, afirma Patrícia Abdalla, proprietária da loja e filha do milionário Toninho Abdalla. Essa febre não fica restrita à metrópole paulista. Segundo Luciano Deos, CEO da consultoria de marcas GADLippincott, é normal que São Paulo seja pioneira nas tendências de consumo de luxo, já que é a mais importante para o setor. 

 

“Mas o natural do mercado é esse movimento se expandindo para outras cidades importantes para o mercado de luxo”, afirma. No Rio de Janeiro, o Salitre é uma dessas opções. Localizado no Barrashopping, na Barra da Tijuca, o espaço conta com mais de 800 rótulos de vinhos e decoração rústica, que em nada lembra as praças de alimentação tradicionais. A necessidade de diferenciação levou o ParkShopping a investir em uma ala gourmet com filiais de restaurantes tradicionais no mercado, como o paulista La Tambouille e o carioca Antiquarius Grill. “Tem muito a ver com a busca dos consumidores pela praticidade sem perder a qualidade de serviço”, afirma Deos. “Você vai ao shop­ping, faz compras e pega uma sessão de cinema sem precisar andar muito para encontrar a boa gastronomia.”

 

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