09/09/2016 - 0:00
Há uma conclusão de rara clarividência que salta dos encontros do G20, o grupo de países mais desenvolvidos do planeta, ocorrido há alguns dias. Ali se apontou que, na atual escalada de protecionismo, será difícil garantir a sustentação do crescimento econômico global. Em outras palavras: o fechamento gradual de fronteiras, não apenas aos fluxos migratórios como também ao comércio multilateral, está comprometendo os resultados de todos os países. Protecionismo é o problema número um dos novos tempos! A síntese da declaração oficial do G20 contempla, naturalmente, o avanço da intolerância e de lideranças políticas mais resistentes à globalização que evoluiu nas décadas passadas, mas que agora corre o risco de retroceder.
A recente derrota de Angela Merkel na Alemanha, o avanço da candidatura Trump nos EUA, a vitória do Brexit e a onda conservadora na França são fenômenos interligados que, conjuntamente, trazem consequências nefastas também no campo econômico. Das grandes às pequenas nações, passando pelas emergentes, não existem vitoriosos nessa escalada. Como disse no encerramento do encontro de cúpula o presidente chinês e anfitrião, Xi Jinping, o protecionismo não é solução. Já existem consolidadas estatísticas que demonstram que o crescimento, em todos os continentes, é fraco e tende a diminuir ainda mais. E não apenas por eventuais volatilidades financeiras, como ocorreu recentemente.
O excesso de capacidade produtiva (em alguns casos) e a baixa demanda, devido ao empobrecimento geral, só ampliam o fosso de dificuldades. No que se refere ao Brasil especificamente e a seus parceiros, os desequilíbrios registrados foram além da conta. Tome-se o caso das transações com a China. Em que pese o País ter fechado acordos bilaterais que superam os US$ 15 bilhões, a balança entre os dois ainda é desigual. Falta muito para colocar esse jogo em pé de igualdade e, em boa parte, a culpa quase total é de sucessivos governos brasileiros. Desde a gestão Lula, a regra em vigor por aqui foi a de se exportar basicamente matérias-primas e commodities em troca de produtos manufaturados.
A retórica populista pregava a infindável abundância dos recursos naturais e a vocação estritamente agrícola. Um discurso que só funcionou enquanto o preço dessas mercadorias estava em alta. Lula surfou na onda da valorização de insumos, mas não preparou (sequer incentivou) os negócios com produtos industrializados. Resultado: O Brasil foi paulatinamente desabando no ranking dos países com as melhores balanças comerciais. O novo presidente, Michel Temer, tenta reverter essa tendência. Junto com a equipe econômica fará um giro internacional para cativar investidores. A ida à China, logo após tomar posse, foi o primeiro passo nesse sentido. E de lá já arrancou bons frutos. Nessa toada pode aos poucos tirar o atraso.
(Nota publicada na Edição 984 da Revista Dinheiro)