16/11/2020 - 20:21
A diretora executiva da Fundação Ellen MacArthur na América Latina, Luísa Santiago, foi a convidada da live da IstoÉ Dinheiro, nesta segunda-feira (16). Formada em jornalismo e mestranda em práticas de desenvolvimento sustentável, ela defende o conceito de economia circular, que se assenta na redução, reutilização e recuperação de materiais, produtos e energia. Na prática, a minimização da extração de recursos, maximização da reutilização, aumento da eficiência e desenvolvimento de novos modelos de negócios. No entendimento dela, o País precisa incentivar não só que se extraia os recursos naturais, mas que ajude a fomentar cadeias produtivas locais de maneira a pensar a agroecologia, o design de produtos e materiais para se manterem na economia, e não descartáveis. Pensar em remanufatura, e não só reciclagem. “A gente precisa pensar em criar valor e não extrair valor. Não dá para ficar só reciclando”, afirma.
Luísa defende a ideia de geração de valor econômico com um ambiente saudável, o que leva benefícios para a sociedade, empresas e governos. Em resumo, as propostas dela são diferentes do modelo econômico que funciona hoje, que é linear, em que você extrai recursos da natureza, consome, descarta e desperdiça.
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A fundação dirigida por Luíza atua em três pilares: educação, inspirando os aprendizes a repensarem o futuro por meio da filosofia da economia circular; empresas e governos, catalisando a inovação circular e criando as condições para que ela prospere. De olho para o futuro, eles criam insights, fazem análises e fornecem evidências robustas dos benefícios da transição para essa “nova economia”. Na entrevista, ela fala sobre produção regenerativa, comunidades que de forma resiliente estão trabalhando novos projetos, comenta sobre a volatilidade do mercado extrativo e a transição para a economia circular.
Luísa liderou a implementação do modelo inicial no mercado, centrado no programa CE100, um programa de inovação pré-competitiva estabelecido para possibilitar que organizações desenvolvam novas oportunidades e alcancem mais rapidamente as suas ambições na economia circular. O programa reúne grandes empresas, governos, instituições acadêmicas e startups inovadoras.
Na live, ela cita exemplos de cidades e empresas que já trabalham com esse novo olhar para natureza e o mundo dos negócios. “Existem formas de gerar valor econômico que vão além de mitigar os impactos negativos”, avalia.
Ao certo, desde 2009, o número de leis sobre a mudança climática aumentou 66%, indo de 300 para 500, a precificação do carbono foi implementada ou tem data de início em quase 40 países e, na Europa, 20 países criaram impostos sobre aterros sanitários.
Nesse cenário, o movimento por um modelo circular de crescimento, dissociado do consumo de recursos finitos e capaz de oferecer sistemas econômicos resilientes, ganha cada vez mais relevância como a próxima onda do desenvolvimento. “O Brasil está vivendo uma distopia e está ignorando o que está acontecendo no mundo. A América Latina vai caminhar cada vez mais em direção da economia circular”, avalia.
Para a diretora da Fundação Ellen MacArthur, as regras do jogo para a nova economia precisam ser construídas conjuntamente entre as mais variadas áreas dos governos e de segmentos empresariais. Ela frisa que, muitas vezes, a máxima do discurso ambientalista colocou no consumidor a potência da mudança. O que para ela é errado e perverso. Na realidade, diz Luísa, o consumidor ocupou esse papel a partir da organização do sistema industrial. Para a construção de um sistema em que ele possa ser um usuário de produtos e serviços, ele vai participar de novas estratégias, mas as indústrias vão ser os protagonistas na mudança, porque foram elas que criaram a economia linear. “O consumidor é parte do sistema que foi criado”, entende.