Uma das maiores preciosidades da culinária mediterrânea, o milenar azeite de oliva tem se tornado, nos últimos anos, uma fonte de bons negócios no Brasil para as principais fabricantes mundiais. Praticamente todas as marcas mais importantes estão por aqui, das líderes do mercado, como as lusitanas Gallo e Andorinha, à espanhola Borges, passando por rótulos gregos, argentinos e chilenos, comprovando o amadurecimento desse setor, que faturou R$ 2 bilhões no ano passado, de acordo com a Euromonitor. A Andorinha, por exemplo, que pertence ao Grupo Sovena, cujo faturamento global alcançou € 1,3 bilhão no ano passado, ampliou de 3% para 10% seu market share em dez anos, colocando em curso uma agressiva operação comercial.

A estratégia incluiu desde a intensificação de campanhas publicitárias, com patrocínio a programas de culinária na tevê, até o reposicionamento da empresa nas gôndolas dos supermercados e parceria com a Bunge para distribuição do produto. A líder Gallo, que está por aqui desde 1908 e é distribuída pela Cargill, também se consolidou na preferência dos brasileiros na última década. Em 2014, a participação atingiu 35% nas vendas totais. Terceira no ranking nacional e maior produtora de azeites do mundo, a Borges, no Brasil desde 2009, ficou com cerca de 8% de um mercado que cresceu 121% entre 2009 e 2014.

A expectativa é de que o setor chegue a um faturamento de R$ 2,9 bilhões até 2019, crescendo mais 45%. “Começamos a trabalhar a marca junto ao consumidor brasileiro, ampliamos a distribuição e trouxemos novos produtos”, afirma o português Nuno Santos, vice-presidente da Sovena, dona da Andorinha. “Hoje, o Brasil corresponde a 10% dos nossos negócios”, diz o executivo, o que indica um faturamento de aproximadamente R$ 400 milhões no País. A consolidação do mercado brasileiro de azeites não impressiona apenas pelos números envolvidos, mas também pela rapidez com que vem ocorrendo.

Até o início dos anos 2000, o consumo era restrito às classes mais abastadas, basicamente do azeite comum, de qualidade inferior na comparação com os classificados como virgem e extravirgem, valorizados como benéficos à saúde. Com a melhora de renda do brasileiro, esse cenário mudou. O produto passou a ser item indispensável das cestas de compras e com isso o mercado brasileiro viu o consumo saltar de 23,6 mil toneladas por ano, em 2004, para 73,2 mil toneladas, em 2014, segundo a Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira.

Paralelamente ao crescimento no mercado brasileiro, a Sovena, atualmente a maior produtora de azeite na terra de Camões, adquiriu operações na Espanha, nos Estados Unidos e em seu próprio país. O Brasil, no entanto, é a menina dos olhos da companhia entre os novos mercados desbravados, principalmente pelo potencial de crescimento nos próximos anos. Isso porque o consumo per capita no Brasil ainda é muito baixo em relação a esses demais países. Enquanto o brasileiro consome 400 ml de azeite por ano, o americano consome um litro, o português, sete litros e o espanhol, 12 litros.

“É uma questão de hábito e de preço, claro”, diz Santos. “Parte do nosso papel é ensinar o brasileiro como consumir o azeite.” Além de inovar em embalagem, para chamar a atenção para seu produto, em meio a tantas opções nas prateleiras, a Sovena criou um personagem, a Dorinha, uma andorinha azul que se tornou a garota-propaganda da marca em programas de tevê e nas redes sociais. Em programas como o da apresentadora Ana Maria Braga, da TV Globo, o personagem ensinava as donas de casa a melhor utilizar o azeite em sua cozinha, desmistificando, por exemplo, a ideia de que seu uso não era apropriado em frituras.

Embalada pelo crescimento do azeite, a empresa quer agora entrar em outro segmento, o de azeitonas, cuja distribuição começou no final do ano passado. “O mercado brasileiro é totalmente diferente do mercado português, pois aqui se consome a azeitona verde, enquanto lá prevalece a preta”, diz Santos. “Ainda é um trabalho pequeno, mas que deve ganhar muita força com a marca Andorinha.” O crescimento do mercado e a maior sofisticação do paladar do brasileiro têm feito com que as marcas apresentem cada vez mais inovações. Um exemplo disso é a “enotização” do azeite, proposto pela Gallo. A marca está apostando em uma linha de azeites que apresentem intensidade e notas peculiares de sabor.

“Isso deve mais uma vez movimentar o segmento”, diz Bruno Alves, gerente-geral da Gallo Brasil, que possui um portfólio de mais de 40 produtos derivados da azeitona e vinagres. O mercado brasileiro é, desde 2008, o maior da companhia no mundo. Outra multinacional que está incrementando seus negócios no Brasil é a espanhola Borges, que passou a ter uma operação própria em 2008. Terceira do ranking, além de azeites, a empresa investe em outros produtos para o mercado brasileiro, como massas e tomate pelado. “Queremos ser uma empresa completa de produtos da dieta do mediterrâneo”, afirma o diretor-geral da Borges no Brasil, Bernardo Pontes.