Matéria-prima extremamente cara, mão de obra escassa e altamente qualificada, mercado consumidor reduzido e produtos que custam pequenas fortunas. A soma de todos esses fatores resulta em uma fórmula nociva para qualquer empresa. Mas, recentemente, o grupo suíço Richemont, o segundo maior conglomerado de luxo do mundo, atrás apenas do LVMH, provou que toda regra tem exceção. Dono de marcas como Cartier, Montblanc, Vacheron Constantin e outra dezena delas, a Richemont apresentou no último dia 9 um espantoso balanço financeiro. Em apenas um ano, o lucro líquido da companhia saltou de 320 milhões de euros para 985 milhões de euros. É um dos melhores resultados na história da companhia. ?O grupo teve um ótimo desempenho na Ásia e nas Américas?, disse à DINHEIRO Jean Christophe Beauvais, presidente da divisão de relógios do grupo Richemont para América Latina e Caribe.

Os resultados mostram que o Richemont fez à risca a lição de casa quando as crises mundiais afetaram o mercado. Em 2001, por exemplo, o lucro fechou na casa dos 712 milhões de euros. Em 2003, contudo, depois da retração provocada pelo 11 de setembro, da gripe asiática e da guerra no Iraque, o grupo apresentou 259 milhões de euros, numa queda de 63,6%. O ambiente econômico ruim na Ásia assustou quase todos os empreendedores ? a Richemont seguiu na contramão e jogou belas fichas na região. ?Eles foram um dos primeiros a abrir lojas na China?, diz Carlos Ferreirinha, diretor da MCF Fashion, consultoria especializada no segmento de luxo. A Cartier, por exemplo, já tem nove lojas próprias no gigante asiático. A Montblanc também avança com 18 lojas e vários pontos de venda espalhados pelo continente. Motivo: só no ano passado o mercado asiático cresceu 90%. Além disso, estudos de mercado apontam que dentro de 15 anos a China será o maior mercado consumidor de luxo ultrapassando Japão, Europa e Estados Unidos. Outro ponto a favor do Richemont é o setor no qual os seus negócios estão concentrados. Há, atualmente, uma forte demanda para jóias e relógios na Ásia. Um estudo do próprio Richemont aponta que apenas 30% da população chinesa tem relógios. Ou seja, há um grande espaço para expandir as operações.

Outra região na qual o grupo suíço aposta e, diga-se de passagem, muito, é o Brasil. Comparado ao restante do mundo, o mercado brasileiro ainda é pequeno, mas o crescimento é veloz. Enquanto a economia cresceu no ano passado 5%, o setor de luxo no País aumentou em cerca de 30%, com movimentações de US$ 2 bilhões. Algumas marcas do Richemont instaladas no Brasil acompanham essa expansão. A Cartier tem duas lojas em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. ?Acabamos de inaugurar um ponto de venda na Daslu?, diz Veronique Claverie, diretora de marketing, da Cartier. A Baume & Mercier, a célebre marca de relógios, pretende dobrar a sua participação no próximo ano. A Montblanc apresentou um salto de 30%, a IWC, 15%, a Piaget, 15% e a Jaeger-LeCoultre teve um acréscimo de 31% nas vendas. Pode parecer exagero, mas sobra público para esse tipo de produto no Brasil. De acordo com dados das áreas de private bank dos bancos brasileiros, algo entre US$ 110 bilhões e US$ 120 bilhões em ativos são mantidos no Brasil. Mais: há 250 mil pessoas com renda acima de R$ 1 milhão. É essa turma que ajuda a engordar os cofres do Richemont.