POUCO SE OUVIU FALAR SOBRE A ATUAÇÃO do Barclays Bank no Brasil nos últimos 11 anos, desde que terminou a parceria entre os ingleses e o banqueiro Pedro Conde (falecido em 2003) no antigo BCN Barclays. As últimas notícias vieram da matriz, que tentou comprar o ABN Amro no ano passado, sem sucesso, e depois enfrentou a crise das hipotecas de alto risco, o famigerado subprime. Mas nada como um dia após o outro. Enquanto outros bancos globais afundaram, o Barclays aproveitou a crise para se fortalecer em outros mercados. Comprou as operações do banco de investimentos Lehman Brothers nos Estados Unidos e, agora, volta suas baterias novamente para a América Latina, especialmente o Brasil.

Na semana passada, o Barclays pilotou a chegada ao País dos iShares, os primeiros fundos de índices com cotas negociadas em bolsa emitidos por uma instituição privada. Com direito a tocar o sino da BM&FBovespa e tudo. Mas o melhor está por vir. Em 2009, o banco investirá em novos nichos de atuação por aqui. Fusões e aquisições e Equity Capital Markets (emissão de ações) são dois deles. “Em 2008 as empresas não tiveram o mercado aberto para fusões e aquisições como em 2007, e isso deve se aquecer no ano que vem, apesar da crise”, afirmou à DINHEIRO Alceu Lima, presidente do Barclays no Brasil.

As previsões de Lima podem parecer otimistas demais diante do momento de cautela vivido pelas empresas brasileiras, mas a visão do executivo não é isolada. No início de novembro, Paul Parker, diretor das operações globais de fusões e aquisições do Barclays, afirmou durante a conferência M&A Outlook 2009 que tais negociações movimentarão uma cifra em torno de US$ 2,5 trilhões no ano que vem, um número próximo ao de 2004 e 2005. “As fusões e aquisições não foram congeladas e a globalização não desapareceu. Novos focos de demanda estão surgindo nos mercados emergentes e devemos supri-los”, disse. A expectativa é de que esse mercado feche 2008 com uma movimentação de cerca de US$ 3 trilhões. Em 2007, o número chegou a US$ 4,4 trilhões. “Tudo o que está acontecendo neste ano gerará uma consolidação benéfica para o futuro, onde veremos grandes empresas comprando outras”, diz Lima. E, dentro desse panorama, o Brasil surge como uma das grandes apostas. “Em 2009 a área de M&A estará em funcionamento por aqui.”

O setor de M&A (sigla para fusões e aquisições, em inglês) havia desaparecido das operações globais do Barclays desde 1997. O banco perdeu a subida galopante desse mercado nos últimos anos, mas volta agora para tentar recuperar o tempo perdido. No início do ano, contratou uma equipe de banqueiros do ABN AMRO para comandar sua área de M&A em Londres. Na última semana, anunciou a chegada de nomes do antigo Lehman Brothers à equipe. O responsável por fusões e aquisições na América Latina será Udi Margulies. “No Brasil, vamos colocar banqueiros que sabem como vender e gerar relacionamento para esse tipo de atividade”, endossa Lima. O próximo passo será a implantação da área de gestão de fortunas (Wealth Management), também remanescente do Lehman, que deverá entrar em vigor até 2010 no País. “Estamos apostando em dois mercados no mundo hoje: Brasil e China”, revela Daniel Gamba, CEO do Barclays Global Investors para América Latina. A crise, na avaliação de Gamba, não muda esse cenário. “O Brasil é um mercado forte, com economia estável e com potencial. E isso não foi alterado”, diz.