Sem notícias de sua tia, Tuba Yolcu segue para o complexo esportivo, onde foram depositados os corpos retirados das ruínas de sua cidade, Kahramanmaras, no sudeste da Turquia, epicentro do terremoto de magnitude 7,8.

Aqui, a terra tremeu durante 75 segundos na última segunda-feira (6), uma eternidade que não deixou nada além de destroços e desolação.

“As autoridades não querem mais reter os corpos além de um certo prazo e vão levá-los para enterrar”, comenta, preocupada. “Que Deus me ajude a encontrar minha tia”, implora.

Em necrotérios improvisados no sul da Turquia, em estacionamentos, estádios, ou ginásios, famílias desesperadas procuram seus entes queridos mortos na tragédia.

As autoridades prometeram que todos seriam identificados e devolvidos aos seus familiares.

“Todos os corpos serão devolvidos aos seus”, garantiu o procurador enviado às famílias em luto.

“Coletamos amostras de sangue de cada corpo não reclamado”, afirmou.

Até este domingo (12), números oficiais informam que o terremoto deixou 29.605 mortos no sul da Turquia. Junto com os 3.574 óbitos registrados na Síria, o total de vítimas fatais é de pelo menos 33.179 pessoas.

No ginásio de Kahramanmaras, as famílias que não conseguiram entrar em contato com seus parentes observam os corpos embrulhados em sacos mortuários, ou enfileirados sob cobertores.

“Mostramos os rostos a parentes próximos”, disse à AFP um investigador especializado em cenas de crime, de uniforme de proteção antibacteriológica, que não quis se identificar.

O local fica à beira de um vasto terreno na periferia da cidade, onde carros funerários vêm e vão sem parar.

“Se o corpo permanece anônimo, coletamos impressões digitais e uma amostra da arcada dentária”, explica o investigador, com uma câmera pendurada no pescoço.

Neste cemitério improvisado, cerca de 2.000 corpos foram identificados, segundo estimativas, mas, com frequência, um novo comboio funerário traz um novo cadáver.

Placas com os nomes das vítimas, escritos à mão, são colocadas em cada sepultura selada às pressas, às vezes envoltas em um lenço, para que as famílias possam encontrar seus entes queridos.

Corpos não identificados são mantidos separados. Os investigadores coletam amostras de DNA, tiram fotografias e fazem anotações de cada um deles.

Yusuf Sekman, representante da Direção de Assuntos Religiosos, detalha que os corpos não identificados são arrumados de acordo com o prédio desabado, onde foram descobertos.

“Dessa forma, os familiares também podem localizá-los com base no endereço do falecido”, enfatiza.

Na sexta-feira (12), o ministro da Saúde, Fahrettin Koca, disse esperar que todos os corpos sejam identificados.

“Colocamos as fotos dos falecidos em um programa especial” para que seus entes queridos possam encontrá-los, relata.

“Espero que possamos identificar a maioria deles”, diz ele.

No ginásio, Tuba Yolcu desiste e vai embora.

“O funcionário me disse que todos os corpos foram identificados”, afirma.

“Vamos voltar para as ruínas”, ela diz ao marido. Talvez sua tia ainda esteja lá.