Com um modelo econômico exaurido e um governo vergado pela falta de credibilidade, a Argentina caminha irremediavelmente para uma nova bancarrota e consequente crise social. As ações espetaculosas da senhora Cristina Kirchner, que ora camuflava índices, ora quebrava contratos – deixando a ver navios mesmo parceiros fiéis como o Brasil –, só serviram para reforçar a desconfiança de um desastre iminente. E a hora parece ter chegado. A inflação segue em descontrole, acompanhada de uma sangria cambial e da escalada do desemprego. No chão de fábrica, a produção está estagnada, enquanto a escassez toma conta do mercado. Mais da metade dos produtos essenciais está em falta nas gôndolas e as autoridades correm para coibir abusos dos fornecedores, na base das ameaças que surtem pouco, ou nenhum, efeito. 

 

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Já vimos esse filme antes! Lojas estão fechando as portas. Os investimentos secaram. O crédito internacional também. O cenário é desolador. Para afastar o fardo da responsabilidade, a senhora Kirchner coloca a culpa na “ação dos especuladores”. Desde a semana passada, os argentinos estão obrigados, por determinação oficial, a limitar seus investimentos em dólar. Só podem gastar, no máximo, 20% da renda na compra da moeda americana. E isso até o teto de US$ 2 mil. Mas as reservas continuam baixando. É como enxugar gelo. A fuga de capitais não cessa. Um clima de inquietação crescente tomou conta. Indústrias de todo o mundo que exportam para lá já temem o calote. 

 

Mais um! Há quem aponte riscos de o Brasil ser contaminado, tamanha a proximidade dos interesses comerciais entre os dois países. Eis um momento de inflexão importante para que a presidenta Dilma e sua equipe econômica mostrem ao mundo claramente, de forma transparente, as diferenças daqui e acolá. Em todos os sentidos. Vincular-se ao vizinho, dando inclusive suporte financeiro e respaldo às suas práticas imprudentes, representará um abraço de afogados. O modelo daquela economia se esgotou devido à sequência de desequilíbrios fiscais e monetários gerados por uma política populista e equivocada. Kirchner repetiu no poder todos os seus antecessores, inclusive o marido, em um ciclo perverso de reveses que parece não ter fim.