20/03/2015 - 20:00
Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua, organizadores dos atos contra a presidente Dilma Rousseff, não se entendem sobre pedido de impeachment
Tão impressionantes quanto as revelações que surgem, quase diariamente, das delações premiadas da Operação Lava Jato são os argumentos que o governo – e sua fiel legião de esclarecidos seguidores – tem utilizado para justificar a roubalheira e a corrupção em todas as engrenagens da máquina pública. A mais recente delas, proferida pela própria presidente Dilma Rousseff, na tentativa de minimizar o escândalo na Petrobras, é a de que a corrupção é uma “senhora idosa” e que as manifestações de rua são ofensivas da elite burguesa contra seu governo.
Sim, a promiscuidade estatal não é invenção do PT. Talvez tenha chegado de caravela e desembarcado ao lado de Pedro Álvares Cabral e sua patota. O fato é que o atual escândalo envolvendo políticos, empresários, estatais e até bancos públicos cria, no dicionário, novas definições para a palavra corrupção. A tentativa de Dilma e sua equipe de socializar roubalheira não diminui a responsabilidade de seu governo no atual episódio. Piora a situação. Ao sugerir que Fernando Henrique Cardoso roubou, que Fernando Collor roubou, que José Sarney roubou, que na Ditadura Militar todos roubaram, subentendendo que agora é a vez deste governo, Dilma assina um atestado de que, no quesito mão grande, todos são farinha do mesmo saco.
O argumento vexatório da presidente – motivo de sobra para envergonhar até os negros, os pobres e os cidadãos historicamente desamparados, como o PT tenta estereotipar seus eleitores – ajuda a alimentar o ódio e a segregação, nas ruas e nas redes sociais. Possuídos por um espírito de defesa da democracia, como se protestar contra a roubalheira não fosse um gesto democrático, os simpatizantes dilmistas classificavam os manifestantes de “elite branca”, “coxinhas”, “donos de varanda gourmet”, “almofadinhas” e “eleitores do Aécio”. Indiscutivelmente, foi a classe média que lotou as ruas naquele domingo.
Os “brancos” que encheram a Avenida Paulista são os mesmos que foram convocados para, após o anúncio do ajuste fiscal de Joaquim Levy, pagar a conta das aventuras do governo nos últimos anos. O que se quer, na verdade, talvez não seja a saída da presidente Dilma, mas que suas promessas de campanha sejam cumpridas e que casos de corrupção sejam exceções, não a regra. A revolta contra o arrastão nos cofres da Petrobras se soma à indignação contra a farra da distribuição de cargos a partidos aliados e a indiferença do governo frente à relação podre entre as estatais e suas fornecedoras. Os levantes populares são, também, uma reação legítima aos cortes em direitos trabalhistas e previdenciários, ao aumento das demissões, à alta dos juros, aos reajustes dos combustíveis, à disparada da inflação e dos impostos.
Até agora, o PT não viu nem ouviu a classe média. Só enxergou a elite. Como se no Brasil só existisse pobre e rico, preto e branco, petista e tucano. Tal dificuldade em perceber o que está acontecendo é resultado de uma cegueira causada pela arrogância. Um grave erro político. Aos poucos, Dilma vai esgotando a popularidade que herdou de Lula, e ameaça o plano petista de poder. A aprovação do governo nunca esteve tão baixa. Na quarta-feira 18, uma pesquisa do Datafolha mostrou que 62% da população reprova a atual gestão, o pior percentual desde Collor. Esse resultado revela que o eleitor pobre, segundo a definição do PT, sente vergonha, enxerga sujeira e sabe separar o que é “a direta” do que é direito.