As 400 peças da exposição Universos Sensíveis, na Pinacoteca de São Paulo até maio, ajudam a contar a história da burguesia brasileira no século XX. São as coleções de Ema e Eva Klabin, filhas do imigrante lituano Hessel Klabin, fundador da indústria Klabin Papel e Celulose. A trajetória da dupla, à frente de seu tempo, é um belo retrato da alta sociedade do pós-guerra, gente empenhada em reproduzir o modo de vida dos ricos europeus.

 

Sempre vestida de modo impecável,
muitas vezes dentro de longos pretos com decotes pronunciados, Ema (1907-1994), a caçula das milionárias irmãs, era firme em seus lances. Assídua da casa de leilões Sotheby?s, em Londres, não vacilava.
Sabia o que queRia. O ritual de visitas à galeria londrina, iniciada na década de 40, atingiu o ápice em 1978. Naquele ano,
de uma só tacada bateu o martelo em
telas de Soutine, Renoir e Vlaminck.

A irmã Eva (1903-1991) seguia o mesmo estilo generoso no abrir de bolsa. No percurso diário para visitar o marido, o advogado Paulo Rapaport, que se recu-
perava de um enfarte, também em Londres, Eva se encantou pelo retrato de Mrs Williams, de Thomas Lawrence, exibido
no antiquário Legatt Brothers. O desejo
da compra foi motivo de discussão.
Rapaport preferia comprar outra tela. Irritados, não levaram nada. Ela, porém,
não se fez de rogada. Ao retornar ao
Brasil, encomendou as duas peças.

 

 

 

Eram mulheres determinadas a transformar dinheiro em bens. Ema queria decorar sua residência, em São Paulo, com o bom gosto artístico dos ambientes que freqüentava pelo mundo. Abusava das relíquias da Europa, obras do Barroco e do Rococó. No Rio , Eva repetia o modelo. Amante das noites em claro, a primogênita dos Klabin exibia as conquistas artísticas em intermináveis jantares. Reunia poderosos como o presidente Juscelino Kubitschek e o banqueiro americano David Rockefeller. Nenhuma das duas teve filhos ? e Eva era quem mais se incomodava com a situação. Como compensação, decidiu comprar Madonas da Renascença italiana com pequenos Jesus ao colo. Nos intervalos da agitada vida social, se dedicavam à filantropia. Ema doou o terreno para a construção do Hospital Albert Einstein, na capital paulista. ?Elas sabiam a importância dos seus papéis sociais?, diz Celso Lafer, presidente da Fundação Ema Klabin.