21/03/2007 - 7:00
JARBAS (AO CENTRO) E OS FILHOS JULIANO E BRUNO Visita a 41 cervejarias antes de lançar a Eisenbahn no Brasil.
Quando fundaram a Cervejaria Eisenbahn, em 2002, Jarbas Mendes e seus filhos Juliano e Bruno definiram cuidadosamente o volume inicial de produção da empresa. ?O ideal é que fosse uma quantidade suficiente para atender à demanda num primeiro momento, mas que, se não desse certo, a família pudesse se reunir e consumir a produção?, diverte-se Jarbas. A primeira opção prevaleceu ? embora o clã demonstre que não haveria desconforto caso fossem obrigados a beber um eventual encalhe do produto. Em apenas cinco anos, a produção, que jorra de uma fábrica em Blumenau, Santa Catarina, saltou de 15 mil litros para 215 mil litros mensais. Até agosto, esse número dobrará, o que equivalerá a um faturamento de R$ 11 milhões para 2007. Cervejarias extraem seus lucros de volumes industriais e um marketing massivo, voltado para o povão. O clã Mendes aposta em outra estratégia. ?Queremos ensinar o brasileiro a beber cerveja?, afirma Jarbas. Em outras palavras: a Eisenbahn aposta nas cervejas gourmet, aquelas que seguem os padrões da Reinheitsgebot, a Lei Alemã da Pureza, que determina apenas o uso de puro malte de cevada, fermento, lúpulo e água na fabricação, sem a utilização de conservantes ou aditivos, o que garante um sabor e aroma acentuados.
Na avaliação da família Mendes, a concentração no mercado brasileiro nos últimos anos provocou uma perda de qualidade na cerveja produzida no País. ?As grandes empresas preocupam-se com a escala de produção e, por isso, impõem um gosto médio, com bebidas suaves, pobres de sabor?, afirma Juliano. ?Elas agradam, mas não encantam.? Ao longo dos anos, as cervejarias locais, como Bohemia, Original e Xingu, acabaram nas mãos de Ambev, Kaiser ou Schincariol. Nesses casos, a primeira providência dos novos donos foi imprimir a elas o tal ?gosto médio?. Recentemente, surgiram sinais de uma mudança de rota nessa tendência. Pequenas cervejarias começaram a pipocar pelo País. Só em Blumenau, outras oito marcas foram lançadas depois da fundação da Eisenbahn. É um fenômeno já conhecido nos EUA. Lá, em 1870 existiam 2,7 mil fabricantes de cerveja. Cem anos depois, a concentração reduziu o número para apenas 40. Atualmente, contam-se 1,5 mil cervejarias, a grande maioria de pequeno porte.
FÁBRICA DA EISENBAHN, EM BLUMENAU Produção de 215 mil litros mensais
Aliás, foi em território americano que nasceu a idéia da Eisenbahn. Anos atrás, Juliano e Bruno desembarcaram em Boston para estudar. Lá, conheceram a Samuel Adams, cerveja artesanal que se transformou na campeã de vendas na cidade e, depois, no país. A marca também construiu uma forte identificação com a comunidade, a ponto de se tornar um símbolo da cidade. Na visão dos dois irmãos, o modelo poderia ser reproduzido em Blumenau. Colonizada por alemães, a cidade possui uma forte tradição cervejeira ? o primeiro fabricante local surgiu em 1857. Mais: todos os anos, a Oktoberfest reúne milhares de pessoas, numa farra etílica que se estende por quatro dias. Até mesmo o nome Eisenbahn (estrada de ferro, em alemão) foi resgatado de uma cervejaria criada em 1909 e fechada alguns anos depois. Com a idéia na cabeça e o apoio do pai, então um consultor da indústria têxtil, Juliano e Bruno visitaram 41 cervejarias européias, sobretudo alemãs e belgas. Da Alemanha, trouxeram um mestre cervejeiro com 30 anos de experiência formado em Weihenstephan, a mais conceituada escola do setor.
Para conquistar mentes e estômagos dos brasileiros, os Mendes se inspiraram na estratégia dos importadores de vinho. ?Eles educaram os brasileiros na arte de degustar a bebida?, diz Bruno. Assim, a Einsenbhan tem investido em eventos de degustação, treinamento com garçons e maîtres de restaurantes e palestras em cursos de gastronomia, nos quais apresentam sugestões de harmonização entre a bebida e as refeições. Também desenvolveram uma coleção de copos específicos para cada tipo de cerveja. No segundo semestre, a empresa contratará uma beer sommelier, cuja função será apresentar a Eisenbahn em bares e restaurantes.
O mais importante, dizem os Mendes, é a variedade oferecida aos clientes. A Eisenbahn montou um portfólio com 11 tipos de cerveja cujos preços variam de R$ 3,50 a R$ 70 (como a Lust, uma espumante inspirada na belga Deus e fabricada com processo semelhante ao do champanhe). Até o final do ano, os Mendes adicionarão mais duas opções ao cardápio atual. ?A Samuel Adams tem 22 variedades?, diz Bruno. O maior desafio da Eisenbahn não reside na conquista do paladar dos brasileiros. O que mais incomoda os Mendes é a ação dos gigantes do setor, Ambev à frente. ?As grandes cervejarias pressionam fornecedores e pontos-de-venda para que dificultem nossa vida?, queixa-se Jarbas. Recentemente, conta, o dono de um bar, responsável pela compra de dez mil litros mensais de chope Eisenbahn, cedeu aos encantos (e dinheiro) de um concorrente para tornar ponto exclusivo. Em outros casos, elas compram as empresas menores. Recentemente, a Schincariol adquiriu a Baden-Baden, uma cervejaria artesanal de Campos do Jordão (SP). E a Eisenbahn está aberta a esse tipo de possibilidade? ?A empresa não está à venda?, garante Jarbas. E se for daquelas propostas irrecusáveis? Jarbas espera alguns segundos para responder. ?Bem, ninguém é de ferro…?, diz, sorrindo. ?A gente vende e abre outra cervejaria.?
R$ 11 milhões é o faturamento da Eisenbahn previsto para 2007
GUIA DA CEVADA
Cervejas da Eisenbahn, os copos próprios para
consumi-las e os pratos para acompanhá-las
Orgânica
Inédita no Brasil, é produzida com cevada de lúpulo plantado sem agrotóxicos.
Pilsen
Leve, é indicada para ser consumida com pratos à base de peixes, sushis e saladas.
Kölsch
Originária de Colônia, na Alemanha, é fabricada com quatro tipos de malte.
Weizenbier
Cerveja de trigo, vai bem com comidas condimentadas, como
a mexicana. Com alta fermentação e coloração âmbar, acompanha carne suína e de carneiro.
Pale Ale
Cerveja escura e encorpada, feita com malte de cevada
torrado, combina com feijoada.
Dunkel