14/05/2010 - 6:00
No mês passado o salão da galeria de arte londrina Saatchi Gallery foi o cenário para um levante dos ?BRICs? no campo das artes. Pela primeira vez foi realizado um leilão com obras de artistas oriundos do Brasil, da Rússia, Índia e China. As vendas alcançaram £ 7,2 milhões, sendo que as de arte brasileira ficaram na casa do £ 1,1 milhão ? considerando um desconto, já que parte da oferta não chegou a Londres por conta do vulcão na Islândia.
Os investidores: os executivos do Brazil Golden Art (a partir da esq.) Heitor Reis, Andre Schwarz,
Rodolfo Riechert (ao fundo) e Raphael Robalinho
O recorde nacional ficou para a brasileira Lygia Clark (1920 -1988), cuja escultura foi vendida por £ 367,250 (R$ 990 mil). Os valores não chegam nem perto da pintura Nu, folhas verdes e busto, de Pablo Picasso, que recentemente bateu o recorde mundial ao ser vendida por US$ 106 milhões na casa de leilões Christie’s de Nova York, mas ainda assim o momento é bom para a arte brasileira.
Para se ter uma ideia, a sexta edição da SP Arte, evento realizado em São Paulo para vender obras de arte, no início do mês, arrecadou R$ 30 milhões. Em 2009, as vendas não ultrapassaram os R$ 26 milhões. De olho nesse crescimento, um grupo de empresários decidiu abrir o primeiro fundo de investimentos voltado para as artes no País.
As obras: Instalação do artista Ernesto Neto
E assim Rodolfo Riechert e Andre Schwarz, ex-membros do alto escalão do Banco Pactual, e hoje CEO e vice-CEO, respectivamente, do fundo de investimentos Plural Capital, juntaram-se a Raphael Robalinho, do RR Capital. Também faz parte do time Heitor Reis, ex-diretor do MAM da Bahia. Todos juntos formaram o Brazil Golden Art, fundo que será gerido pela Plural Capital. ?Em, três anos, queremos ter uma das cinco coleções de arte mais importantes do Brasil?, conta Reis.
As obras: trabalho de Vik Muniz
O Brazil Golden Art será um fundo fechado, no modelo de private equity, com registro na CVM, e pretende angariar até R$ 40 milhões ? cerca de 50% do valor já está garantido, segundo os sócios. Eles esperam atrair outros investidores que estejam dispostos a ceder um mínimo de R$ 100 mil.
Obra de Tunga: o artista é um dos que estão na mira para integrar a coleção do novo fundo, que pretende
angariar até R$ 40 milhões, com um acervo de três mil obras
Com esse valor, serão compradas obras de artistas brasileiros contemporâneos consagrados como Tunga, Vik Muniz, Adriana Varejão e Ernesto Neto. ?Pretendemos chegar a três mil trabalhos, em média. Entre nossos objetivos também está o de patrocinar artistas e levar a coleção para museus ao redor do mundo?, explica Reis. Tudo isso para driblar a baixa liquidez das obras de arte em território nacional. ?Queremos levar os novos artistas para o público estrangeiro, para valorizá-los ainda mais?, diz Riechert.
A questão do valor de uma obra de arte contemporânea é complexa. ?Ela é sempre um investimento de risco?, diz Baixo Ribeiro, da galeria Choque Cultural. ?Mas o que pode garantir o valor de uma obra é o quanto ela poderá, no futuro, contar a história de uma época.? Ou seja, além de um bom curador, é preciso uma certa dose de feeling para acertar.