24/04/2015 - 8:30
A criatividade e o talento dos brasileiros são reconhecidos em todo o mundo. Especialmente no que se refere à música e à literatura. Contudo, nossos artistas plásticos jamais conseguiram um espaço de destaque no exterior. Uma boa amostra disso é que o recorde de vendas obtido por um quadro brasileiro pertence a Contra Relevo, da mineira Lygia Clark, arrematado por US$ 2,2 milhões, em 2013. Mas se falta um mercado mais robusto lá fora, quando comparado ao prestígio desfrutado por pintores e escultores mexicanos e colombianos, por aqui, a situação é mais promissora.
“Quem consome arte brasileira são os brasileiros”, afirma Rodrigo Brant, sócio da Canvas Galeria de Arte, de São Paulo. “Mesmo que a venda aconteça nos Estados Unidos ou na Europa.” Para saciar o apetite deste contingente, Brant e o parceiro Nelson Gavazzoni decidiram ampliar os negócios de sua galeria, aberta em 2004, para funcionar como casa de leilões. Desde o ano passado, o piso térreo do imponente sobrado da avenida Europa, no coração do sofisticado bairro dos Jardins, em São Paulo, tem sido palco de concorridas vernissages. As exposições funcionam como vitrine para os leilões que costumam ser bem disputados e que mobilizam colecionadores e investidores de todo o País.
A batida do martelo de Gavazzoni, que atua há 43 anos neste ofício, já resultou em marcas expressivas. Os destaques são Natureza Morta, do fluminense Alberto da Veiga Guinard e Bandeirinhas com Mastro, de Alfredo Volpi, vendidos por R$ 1,98 milhão e R$ 1,95 milhão, respectivamente. O mais recente pregão, ocorrido em 24 de março, movimentou R$ 70 milhões, levando-se em conta o preço mínimo dos quadros ofertados, que incluíam obras raras de Tomie Ohtake e Di Cavalcanti. Um volume modesto quando comparado às cifras lá de fora. Em 2014, o recorde mundial foi obtido pelo quadro Chariot, de Alberto Giacometti, leiloado por US$ 90 milhões.
Mas nem por isso se deve desprezar o momento vivido no Brasil. “As obra de arte estão ganhando força como reserva de valor para quem deseja diversificar seus investimentos”, diz Brant. Isso fica evidente na terceira edição da pesquisa do setor, feita pelo projeto Latitude Platform for Brazilian Art Galleries Abroad, ligada à Apex-Brasil, agência de fomento às exportações do governo federal. Em 2013, nada menos que 90% dos galeristas entrevistados disseram ter aumentado os negócios em relação ao ano anterior. Na média, houve um crescimento de 27,5%. Graças à ação tanto de investidores quanto de empreendedores.
Das 43 galerias que integram a base de dados do estudo, um terço surgiu nos últimos cinco anos. Apesar da robustez da amostra, ela não inclui nomes como a da Canvas. A estratégia de negócio da dupla Brant-Gavazzoni vai além de mera utilização do espaço ocioso como vitrine. Sua ambição é lançar e reforçar tendências. A arte cinética é sua mais nova aposta. Na exposição prevista para o segundo semestre, o público poderá contemplar quadros dos venezuelanos Cruz Diez e Jesús Rafael Soto, além do brasileiro Abraham Palatinik, expoentes de uma escola que nasceu na Espanha na década de 1990.
“Somos um dos maiores divulgadores dessa vertente no Brasil”, afirma Brant, sócio da Canvas. Em fevereiro, a dupla de galeristas também inovou ao mergulhar no universo pop, com Os Grafiteiros, que reuniu os nomes como Crânio, Nunca e Kobra. “Queremos popularizar a arte, trazendo para o espaço os representantes de movimentos contemporâneos”, diz Gavazzoni. Democratizar, sim, mas sem perder o foco no negócio. Afinal, o terceiro quadro mais caro de 2014 foi Triple Elvis, assinado pelo americano Andy Warhol. A tela na qual o eterno rei do rock aparece vestido de caubói, foi arrematada por US$ 73 milhões.